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Anarquismo

O anarquismo foi uma teoria e formulação de prática política nascida na Rússia e que tem como objetivo acabar com o capitalismo e com o Estado.

Godwin e Bakunin defendiam a extinção de qualquer autoridade que limitasse a ação humana
Godwin e Bakunin defendiam a extinção de qualquer autoridade que limitasse a ação humana
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O anarquismo é uma teoria política que surgiu com o político francês Pierre-Joseph Proudhon e teve grande divulgação com o russo Mikhail Bakunin. Tem como principal característica a supressão total do Estado e a eliminação do capitalismo. A palavra anarquia deriva do grego an (não) e archos (governo).

Leia também: Diferenças entre socialismo e anarquismo

Tópicos deste artigo

Origem do anarquismo

O pensamento anarquista surgiu com as ideias do político e filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Membro do Parlamento francês, durante certo tempo, e oriundo de uma família de pequenos burgueses, Proudhon criticou severamente a presença do Estado nas organizações políticas e a aquisição da propriedade privada.

Retrato de Pierre-Joseph Proudhon pintado por Gustave Courbet.
Retrato de Pierre-Joseph Proudhon pintado por Gustave Courbet.

Segundo o francês, a propriedade privada, símbolo maior do capitalismo, era o maior motivo da desgraça humana, e o Estado era apenas um aparato repressor criado para controlar a vida das pessoas e mantê-las presas à lógica capitalista.

Outro grande pensador do anarquismo foi o teórico político russo Mikhail Bakunin (1814-1876). Bakunin conheceu os ideais de Proudhon e o socialismo científico de Marx e Engels. Ele divergiu dos teóricos comunistas, em especial, na questão da presença do Estado nas revoluções populares, e também elevou a um grau mais radical as ideias do francês Proudhon.

Para Bakunin, era necessária uma revolução sangrenta, a partir de ações terroristas que derrubassem de vez o Estado e implantassem um sistema político democrático direto, baseado na autogestão e sem figuras de lideranças políticas.

O anarquismo surgiu como resposta ao capitalismo, que criava um sistema extremamente desigual na Europa, ocasionando a possibilidade de acúmulo de bens por uma pequena parcela da população e a miséria para uma maioria.

Assim como o socialismo, o anarquismo surgiu a partir da observação das desigualdades e da percepção das camadas economicamente excluídas do capital, mas produtoras de bens (para Marx eram os trabalhadores fabris; para Bakunin, eram os camponeses).

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Características do anarquismo

O pensamento anarquista passou por algumas modificações entre os seus autores clássicos e outros teóricos do século XX. Proudhon criticou o Estado, defendeu a supressão dele a partir da política, também era contra o capitalismo e a propriedade privada. Bakunin foi mais radical ao implantar a ideia de um anarquismo terrorista, implantado mediante uma revolução popular baseada na agitação popular, na força e nas manifestações violentas.

Mikhail Bakunin, um dos principais teóricos do anarquismo.
Mikhail Bakunin, um dos principais teóricos do anarquismo.

O anarquista italiano Errico Malatesta foi ainda mais radical, já que conseguiu divulgar o pensamento anarquista e insuflar as massas contra o Estado por diversas vezes. É notório, porém, que existem dois pontos comuns que definem o pensamento anarquista: a derrubada do capitalismo e a extinção do Estado.

O anarquismo tem como princípio básico a autogestão democrática da política, ou seja, no sistema anarquista não existe governo, não existe Estado, não existem lideranças, não existem instituições econômicas, e a lei é criada e exercida pela participação de toda a população.

O anarquismo prega a valorização da liberdade individual, a partir da extinção do capitalismo e das instituições estatais, por isso é chamado também de comunismo libertário. Para os anarquistas, não deve haver qualquer tipo de força repressora da liberdade humana, assim o Estado deve ser extinguido.

O ser humano deve ter o princípio da liberdade como força motriz de sua ação, pois na visão anarquista, se todos têm as mesmas condições socioeconômicas e submetem-se às mesmas condições legais autogestionárias (submetem-se a uma lei comum que não privilegia uns e absolve outros e não têm como figura central as instituições), as ações contra o bem comum tendem a diminuir.

O princípio da liberdade anarquista é elevado ao máximo, ao concluir que o ser humano deve ter total direção e controle de sua vida individual, desde que não interfira na vida alheia. Dessa forma, os anarquistas veem a maioria das leis como artifícios de controle que apenas mantêm as pessoas conformadas com a ordem vigente.

Leia também: O nazismo era de esquerda ou de direita?

Anarquismo é de esquerda?

Existem teses que tentam relacionar o pensamento anarquista a um pensamento de direita econômica, por conta do libertarianismo, que pegou elementos anarquistas e aproximou-os do liberalismo econômico. Porém, deve-se ressaltar que o anarquismo é contra o capitalismo, aproximando-se, nesse ponto, da visão de esquerda, que visa a estabelecer um sistema econômico igualitário.

Os anarcocapitalistas são representados por teóricos que desenvolveram, a partir da segunda metade do século XX, teorias políticas que unem o direito à propriedade privada, à ausência de Estado e ao livre mercado na gestão econômica.

Para os anarcocapitalistas, todos os serviços, dos mais básicos aos mais complexos, devem ser oferecidos pela iniciativa privada e ter os seus preços regulados pelo mercado. Haveria, portanto, a extinção do Estado e da cobrança de impostos, e aqueles que não podem pagar pelos serviços não têm acesso a eles.

Essa visão aproxima-se do anarquismo apenas na concepção de extinção de Estado, mas se distancia muito ao propor a existência de um capitalismo liberal livre. Historicamente, o anarquismo está muito mais próximo do pensamento econômico e político da esquerda, por se concentrar na extinção do capitalismo e no fim da desigualdade social.

Leia também: Diferença entre esquerda e direita

Anarquismo e comunismo

Assim como o socialismo científico de Marx e Engels, o anarquismo surge como uma resposta à condição desigual de vida dos trabalhadores europeus do século XVIII. Porém, existem diferenças basilares que distinguem os dois sistemas, e a principal delas é a questão do Estado. Para os comunistas, o Estado burguês deveria ser abolido, pois ele servia à lógica capitalista e era um elemento da superestrutura.

Porém, era necessária a criação de um Estado socialista que reduziria, gradativamente, a diferença de classes sociais por meio de ações estatizantes até acabar de vez com o Estado, formando a sociedade comunista.

Para os anarquistas, o Estado era a própria lógica capitalista e o capitalismo somente acabaria com a supressão total do Estado. Segundo o pensamento anarquista, os socialistas reformistas (antirrevolução) nada mais fizeram do que “gerir o insuportável e intolerável do capitalismo”|1|. Porém, nos quesitos luta social, defesa da igualdade e fim do capitalismo, os anarquistas e os socialistas aproximam-se, ao menos teoricamente.

Leia também: O que é golpe de Estado?

Anarquismo e fascismo

Os anarquistas foram fortes inimigos dos fascistas na Itália. A teoria fascista, essencialmente totalitária, prevê a criação de um Estado forte que controle não somente a vida política, mas também a vida particular das pessoas. O excesso de controle por parte o Estado, aliado à defesa da propriedade privada e do funcionamento de um capitalismo submetido a um Estado forte, despertou a luta anarquista contra o governo fascista italiano.

Figuras como Errico Malatesta foram peças fundamentais nessa luta, que deixaram clara a não ligação do pensamento anarquista com qualquer pensamento conservador e com qualquer tipo de governo que cerceie a liberdade humana fundamental. Para adquirir mais conhecimento acerca desse assunto, acesse este texto: Fascismo na Itália.

Leia também: Democracia: conceito, tipos, exemplos e origem

Anarquismo no Brasil

Com a grande imigração italiana para o trabalho nas lavouras de café, principalmente após a abolição da escravidão, o pensamento anarquista adentrou com força em nosso país. Vários trabalhadores camponeses trouxeram consigo livros, panfletos e os ideais anarquistas, e os disseminaram por aqui.

Entre 1890 e 1894, uma colônia anarquista autogestionária funcionou em terras paranaenses, a Colônia Cecília. Os anarquistas também promoveram protestos, piquetes e greves, o que ocasionou um medo governamental de desestabilização política que motivou o presidente Afonso Pena a sancionar, em 1907, a Lei Adolfo Gordo, uma lei de expulsão de imigrantes estrangeiros que provocassem qualquer tipo de agitação ou instabilidade política no Brasil.

A dissolução de sindicatos trabalhistas também foi uma tática mais sutil de atuação contra o pensamento anarquista em nosso país, que apesar de não se organizar por lideranças institucionais, assume os debates sindicais (como aconteceu em parte da Europa, fundando o anarcossindicalismo) para se organizar.

Resumo

  • Teoria política do século XIX;

  • Contrário ao capitalismo;

  • Defende a supressão do Estado;

  • Bakunin e Proudhon são os principais teóricos;

  • Defende ações extremistas para a dissolução do Estado e da ordem capitalista;

  • É uma teoria política de esquerda.

Notas

|1| COÊLHO, P. A (org.). História do Anarquismo. São Paulo: Intermezzo Editorial, 2016, p. 11.


Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Anarquismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/anarquismo.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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