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Xangô

Xangô é o orixá dos raios e da justiça, considerado justo e bondoso. Seu culto faz parte da cultura iorubá, e foi trazido ao Brasil por meio do tráfico negreiro.

Orixá Xangô em fundo branco
Xangô é um dos principais orixás presentes nas religiões de matriz africana.
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Xangô é um orixá que faz parte das religiões de matriz africana no Brasil. É o orixá dos raios e da justiça, sendo justo, bondoso, forte e ágil, e não tolerando injustiças cometidas por mentirosos e por bandidos. O sincretismo religioso fez com que ele fosse relacionado com o santo católico São Jerônimo.

Os historiadores afirmam que Xangô se trata de um personagem histórico que passou a ser divinizado depois de sua morte. Ele teria sido alafim do Império de Oió, sendo destituído de seu trono. Isso o teria feito suicidar-se, transformando-se em orixá. O seu culto era muito popular e foi trazido ao Brasil por meio do tráfico de escravizados.

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Tópicos deste artigo

Resumo sobre Xangô

  • Xangô é o orixá da justiça e dos raios nas religiões de matriz africana no Brasil.

  • É considerado um orixá jovem, forte, ágil, bondoso e justo.

  • O sincretismo religioso associou Xangô com o santo católico São Jerônimo.

  • O culto a Xangô foi trazido para o Brasil por meio do tráfico de africanos escravizados.

  • Xangô foi também um personagem histórico conhecido como alafim do Império de Oió.

  • Os filhos de Xangô são conhecidos por terem um afinado senso de justiça.

  • Como oferenda ao orixá, seus fiéis lhe oferecem cerveja preta, fumo, flores, entre outros.

Características de Xangô

Xangô é um dos principais orixás presentes nas religiões de matriz africana, e o culto a ele no Brasil é derivado do que existia em certas partes da África. O culto a Xangô estava relacionado com os iorubás (que habitavam regiões que correspondem a atual Nigéria e Benim), além dos jejes e nagôs. Ele também foi um rei do Império de Oió.

Nas religiões de matriz africana, como o candomblé, Xangô é considerado o orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo. Sua popularidade é tão grande que, em Pernambuco, o nome “xangô” também pode designar de modo genérico o culto religioso de matriz africana. O machado é um dos seus símbolos.

Xangô é considerado um orixá justo e bondoso, embora seja sério e tido como um justiceiro contra aqueles que não se comportam de maneira justa. É atribuída a ele a punição àqueles que roubam e mentem. Fisicamente é descrito como um orixá jovem, forte e de grande agilidade.

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Características dos filhos de Xangô

Os filhos de Xangô são conhecidos por terem um grande senso de justiça, por isso, detestam injustiças de todas as naturezas. Fala-se que os filhos de Xangô, muitas vezes, se posicionam de maneira incisiva contra situações injustas, tanto em relação a eles quanto a outras pessoas.

Além disso, seus filhos têm excelente autoestima, e isso se reflete na quantidade de pessoas com que se envolvem amorosamente. São apresentados também como pessoas carismáticas e resilientes, e defendem suas opiniões de maneira enérgica.

Do que Xangô gosta?

É comum que os fiéis a Xangô lhe prestem homenagens com oferendas. Seus seguidores falam que um de seus pratos favoritos é o beguiri, que contém quiabo, camarões, azeite de dendê, carne vermelha e pimenta. Além disso, ele gosta de cerveja preta, fumo, flores e velas da cor marrom, entre outras preferências.

Leia mais: Iemanjá — orixá muito popular nas religiões de matriz africana e relacionada com o mar

Saudação a Xangô

É muito comum que os seguidores das religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, usem uma saudação como forma de demonstrar seu respeito e devoção a Xangô. Essa saudação é aportuguesada como Kaô Kabecilê, que se traduz como “venha saudar o rei”. Outros afirmam que ela significa algo como um pedido para enxergar Xangô. Originalmente, no idioma iorubá, a saudação é escrita da seguinte maneira: Káwó Kábíẹ̀sílẹ̀.

Títulos de Xangô

Xangô é conhecido por muitos títulos que referenciam suas características, sua personalidade, suas ações e seus poderes. Vejamos alguns exemplos:

  • Obalubé: faz referência às riquezas que Xangô possui.

  • Oba Kossô: título que lhe foi atribuído após ele ter fundado a cidade de Kossô, sendo coroado rei desse local.

  • Igbonam: título dado por sua relação com o fogo.

Orações a Xangô

Muitos fiéis de Xangô fazem essa oração ao orixá quando desejam sua proteção:

Senhor meu Pai, o infinito é tua grande morada no espaço, teu ponto de energia é nas pedras das cachoeiras. Com tua justiça fizeste uma construção digna de rei. Meu Pai Xangô, tu que és defensor da justiça de Deus e dos homens, dos vivos e dos além da morte, tu, com tua machadinha de ouro, defende-me das injustiças, acobertando-me das mazelas, das dívidas, dos perseguidores mal-intencionados. Protege-me meu glorioso São Judas Tadeu, Pai Xangô na umbanda. Sempre justiceiro nos caminhos em que eu venha a passar com a força desta prece, sempre contigo estarei, livrando-me do desespero e da dor, dos inimigos e dos invejosos, dos indivíduos de mau-caráter e dos falsos amigos. Axé.

Quando se quer a intervenção de Xangô para que haja justiça em alguma situação, a oração a ser feita é a seguinte:

Poderoso Orixá de umbanda, Pai, companheiro e guia, Senhor do equilíbrio e da justiça, auxiliar da Lei do Carma, só Vós tendes o direito de acompanhar, pela eternidade, todas as causas, todas as defesas, acusações e eleições promanadas das ações desordenadas dos atos puros e benfazejos que praticamos.

Senhor de todos os maciços e cordilheiras, símbolo e sede da Vossa atuação planetária no físico, no astral e no mental. Soberano Senhor do equilíbrio e da equidade, velai pela inteireza do nosso caráter.

Ajudai-nos com Vossa prudência. Defendei-nos das nossas perversões, ingratidões, antipatias, falsidades, incontinência da palavra e julgamento indevido, dos atos dos nossos irmãos em humanidade.

Só Vós sois o grande Julgador.

Oração a São Jerônimo

No sincretismo religioso, Xangô foi relacionado com São Jerônimo, por sua vez, relacionado com a proteção contra raios e tempestades. Muitas pessoas que querem a intercessão e o cuidado desse santo realizam a seguinte oração:

São Jerônimo, iluminai e esclarecei a todos os adeptos das seitas evangélicas para que eles compreendam as Escrituras, e se deem conta de que contradizem a religião católica e a própria Bíblia, porque eles se baseiam em princípios pagãos e supersticiosos; ajudai-nos a considerar o ensinamento que nos vem da Bíblia acima de qualquer outra doutrina, já que é a palavra e o ensinamento do próprio Deus. Fazei que todos os homens aceitem e sigam a orientação do nosso Pai comum expressa nas Sagradas Escrituras.

Amém!

Leia mais: Quais são as diferenças e semelhanças entre umbanda e candomblé?

Xangô na África

Na história iorubana, Xangô foi o quarto alafim de Oió. O termo alafim refere-se a um rei, sendo que Oió era um poderoso reino iorubá localizado no atual território de Nigéria e Benim. Alafim é traduzido como “senhor do palácio de Oió”, um indicativo do poder do alafim em seu reino.

Os historiadores entendem que Xangô teria sido um personagem histórico divinizado após sua morte. Xangô era filho de Oraniã, o primeiro rei de Oió, e de uma princesa chamada Iamassê, mas outras versões apontam que sua mãe teria sido Torossi. Oraniã teria sido o primeiro rei de Oió, e Dadá Ajacá, irmão de Xangô, o segundo.

Xangô teria sido o quarto alafim de Oió, assumindo o poder depois de destituir o seu irmão. Os contos iorubás trazem que Xangô procurou fortalecer o seu poder envolvendo-se em diversas batalhas a fim de expandir seu reino. Ele foi casado com três mulheres: Oxum, Obá e Oiá. Outras versões falam que a terceira esposa dele teria sido Iansã.

A mitologia iorubana afirma que o reinado de Xangô se encerrou devido a um acidente terrível. Xangô teria enviado sua esposa Iansã para comprar uma poção mágica dos baribas, povos vizinhos de Oió. Essa poção deu ao orixá o poder de expelir fogo pela boca, mas, enquanto praticava, acidentalmente incendiou o próprio palácio, fazendo com que o fogo se espalhasse pela cidade.

Isso fez com que Xangô fosse destituído do trono, e, por uma tradição local, precisou cometer suicídio para preservar a sua honra. Ele se enforcou em uma árvore, mas o seu corpo não foi encontrado. Assim, o alafim foi transformado em um orixá e foi para o Orum, o mundo espiritual onde residem os orixás.

Xangô no Brasil

O culto de Xangô espalhou-se por todo o Império de Oió e chegou ao Brasil por meio do tráfico negreiro. Durante séculos, o poderio de Oió tinha protegido a sua população dos ataques de traficantes de escravos, mas, quando esse reino se enfraqueceu, a partir do século XVIII, sua população tornou-se alvo fácil dos traficantes.

Com isso, as cidades de Oió passaram a ser alvo do tráfico, tendo a sua população vendida e trazida para a América. A chegada da população iorubá ao Brasil é que permitiu que o culto a Xangô se disseminasse aqui e em outros países do continente americano.

Os ritos dedicados a Xangô estão em todos os cantos do Brasil e se adaptaram às realidades aqui encontradas. Algumas práticas que eram dedicadas exclusivamente ao culto de Xangô foram ampliadas e transmitidas para o culto de todos os orixás encontrados no país.

A importância do culto a Xangô se tornou tão grande no Brasil que, em Pernambuco, a religiosidade de matriz africana ficou genericamente conhecida como xangô. O culto a esse orixá também é encontrado em locais como Cuba, por exemplo. Todavia, para todos, ele se tornou o orixá da justiça.

Fontes

BERKENBROCK, Volney J. A experiência dos orixás: um estudo sobre a experiência religiosa no candomblé. Petrópolis: Vozes, 1997.

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012.

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Ediouro.

CANÇÃO NOVA. Oração a São Jerônimo. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/oracao-a-sao-jeronimo/

MOTTA, Roberto. Xangô, Jurema e Umbanda: anotações sobre três formas de religião popular na região do Recife. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/2433/243364810018/243364810018.pdf

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

PRANDI, Reginaldo e VALLADO, Armando. Xangô, o rei de Oió. Disponível em: https://reginaldoprandi.fflch.usp.br/sites/reginaldoprandi.fflch.usp.br/files/inline-files/Xango_rei_de_Oio.pdf

TERRA. Dia de Xangô: história, orações e ritual para o orixá da justiça. Disponível em: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/esoterico/dia-de-xango-historia-oracoes-e-ritual-para-o-orixa-da-justica,01b057ed888e6b3a0d098ce468490eaex0rotkie.html

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Xangô"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/xango.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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