O metanol é um composto orgânico pertencente à função álcool, de fórmula molecular CH4O, e que é altamente tóxico aos seres humanos. Sua ingestão pode causar diversos sintomas, destacando-se problemas de visão, coma, falência renal, braquicardia e, até mesmo, morte.
É o álcool mais simples, apresentando um único carbono. É também um líquido incolor, volátil, com odor característico, além de altamente polar. Ele é aplicado na produção de combustíveis de menor impacto ambiental, além de ser útil na produção de hidrogênio, como solvente e precursor de diversas moléculas de interesse para a indústria. É produzido a partir de fontes fósseis, como carvão, gás natural, petróleo, mas também a partir da biomassa ou por eletrólise aquosa.
Leia também: Fenol — outra substância de ampla aplicação, mas bastante tóxico ao ser humano
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre metanol
- 2 - O que é o metanol?
- 3 - Características do metanol
- 4 - Propriedades do metanol
- 5 - Para que serve o metanol?
- 6 - Produção de metanol
- 7 - Efeitos do metanol no corpo
- 8 - Intoxicação por metanol
Resumo sobre metanol
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O metanol é um composto orgânico de fórmula CH4O que pertence à função álcool.
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É um líquido incolor, volátil, de odor característico e de alta polaridade.
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É utilizado para fins de combustíveis, assim como para produção de hidrogênio.
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É também empregado na formação na produção de outras substâncias precursoras de produtos de alta utilização em nossa sociedade.
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O metanol pode ser produzido a partir de fontes fósseis ou biomassa, além de eletrólise aquosa.
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O metanol é tóxico aos seres humanos e a exposição a essa substância pode causar, nos piores casos, a morte.
O que é o metanol?
![Um frasco de metanol no laboratório. [imagem_principal]](https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/be/2025/10/metanol-frasco.jpg)
O metanol é um composto orgânico pertencente à função álcool, de fórmula molecular CH4O, porém comumente representado como CH3OH para dar destaque à hidroxila. Dos álcoois existentes, é o mais simples de todos, pois possui um único carbono.
Características do metanol
O metanol é um líquido em condições ambientes, sendo incolor e também volátil, o que permite percebermos o seu odor alcoólico característico. É uma substância polar, de caráter neutro e, em geral, considerado não corrosivo.
Por conta da sua polaridade e hidroxila, que permite a formação de ligações de hidrogênio, é totalmente miscível em água. Também é capaz de dissolver diversos sais inorgânicos. Na sua forma pura, é também muito higroscópico, ou seja, atrai e retém moléculas de água presentes no ambiente.
O metanol apresenta reatividade química semelhante a outros álcoois primários alifáticos, sendo o grupo hidroxila o principal agente associado nessa reatividade. Muitas das reações que envolvem o metanol ocorrem com quebra da ligação C−OH ou da ligação O−H, levando a uma substituição do grupo hidroxila ou do hidrogênio lá presente. A seguir, alguns exemplos de reações de metanol.
Mecanismo |
Reação |
Outros reagentes |
Produtos |
Quebra da ligação O−H |
Esterificação |
Ácido etanoico |
Etanoato de metila |
Fosgênio |
Carbonato de dimetila (DMC) |
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Ácido tereftálico |
Tereftalato de dimetila |
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Adição |
Propanona |
Acetal |
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Metilpropeno |
Metóxi-tercbutila |
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Substituição do grupo hidroxila |
Halogenação |
HCl |
Cloreto de metila |
Carbonilação |
CO |
Ácido etanóico |
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Desidratação |
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Metóxi-metano |
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Amonólise |
NH3 |
Metanaminas |
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Quebra da ligação C−H e O−H |
Desidrogenação oxidativa |
O2 |
Metanal |
Dissociação |
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CO e H2 |
Propriedades do metanol

- Fórmula molecular: CH4O.
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Função orgânica: álcool.
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Massa molar: 32 g/mol.
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Densidade: 0,7864 g/mL (líquido, 25 °C e 1 atm).
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Temperatura de fusão: −97,5 °C.
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Temperatura de ebulição: 64,5 °C.
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Nome IUPAC: metanol.
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Nome comercial: álcool metílico.
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Solubilidade: miscível em água, etanol, propanona e éter etílico; muito solúvel em benzeno; solúvel em clorofórmio.
Para que serve o metanol?
O metanol possui diversas aplicações de interesse comercial e industrial. Atualmente, pensa-se no metanol como um combustível menos poluente, uma vez que apresenta uma menor quantidade de átomos de carbono, poluindo menos que a combustão do etanol, por exemplo.
Misturar metanol à gasolina, no lugar de etanol, pode garantir algumas vantagens ao combustível, uma vez que, além de ser menos poluente, apresentará um maior índice de octanagem e uma menor temperatura de combustão (o que garante menos emissão de materiais particulados e gases NOx), por exemplo.
Contudo, seu uso como combustível possui algumas limitações, como uma pior autoignição, baixa miscibilidade com combustíveis minerais na presença de água (principalmente diesel), dificuldade de partida a frio, corrosão e degradação de materiais, além de baixa lubrificação dada sua baixa viscosidade.
Outro uso importante do metanol está no fornecimento de hidrogênio em células combustíveis, uma vez que uma única molécula desse composto carrega quatro átomos de hidrogênio. O gás hidrogênio, H2, é um combustível muito estudado, uma vez que sua combustão produz apenas água e apresenta também alta produção de energia por grama. A ideia é utilizar, em células combustíveis, o hidrogênio gerado a partir do metanol. Vale lembrar que o metanol, sendo líquido, é de fácil transporte, manuseio e estoque.
No gancho da produção de gás hidrogênio, o metanol também é importante na produção de diversos produtos químicos, sendo o principal deles o formaldeído (metanal), que pode ser aplicado na produção de madeiras compensadas e painéis de fibra de média densidade, como o MDF. O formaldeído, derivado de maior demanda do metanol, é produzido via oxidação parcial deste:
CH3OH (l) + ½ O2 (g) → HCHO (l) + H2O (l)
Outros produtos obtidos a partir do metanol de grande destaque são:
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MTBE (metiltercbutiléter), um aditivo para gasolina;
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ácido acético (ácido etanoico), empregado na fabricação de fibras sintéticas, como o fleece, além de adesivos e tintas;
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metilmetracrilato (MMA), empregado em telas de PMMA-LCD, assim como na fabricação de automóveis;
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silicones, que são empregados como selantes, lubrificantes, equipamentos médicos e isolantes;
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olefinas (alcenos), para a produção de polímeros sintéticos, como etil propileno e o propileno.
Ainda no campo da indústria química, o metanol é também aplicado como solvente para tintas, vernizes e como afinador de tintas. Outro uso importante para o metanol é no tratamento de águas de rejeito, em um processo conhecido como denitrificação, cujo objetivo é converter o excesso de nitrato em gás nitrogênio, o qual não possui impacto poluidor quando liberado na atmosfera.
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Produção de metanol
Industrialmente o metanol é produzido a partir de gás de sínteses, que contém cargas de CO, CO2 e H2. Isso quer dizer que o metanol pode ter, como matriz, o petróleo, o gás natural, o carvão e a biomassa. Algumas reações são demonstradas a seguir, as quais devem ser catalisadas.
CO + 2 H2 → CH3OH
CO2 + 3 H2 → CH3OH + H2O
Também é possível aproveitar o conteúdo de carbono do CO para a formação do metanol, da seguinte forma:
CH3OH + CO → HCOOCH3
HCOOCH3 + 2 H2 → 2 CH3OH
A partir do metano, existem dois métodos: via oxidação ou por bioprocessamento, que envolve a utilização de enzimas. A oxidação do metano para produção de metanol é:
CH4 + ½ O2 → CH3OH
Efeitos do metanol no corpo
O metanol é uma substância tóxica, podendo os seres humanos serem expostos por ingestão, inalação ou via pele. Alguns efeitos característicos do metanol no corpo são relatados a seguir.
Característica |
Descrição dos efeitos |
Depressão inicial do sistema nervoso central (SNC) |
A intoxicação inicial pode parecer a mesma causada pela ingestão de etanol, mas de menor duração e menos pronunciada. Irritação do trato gastrointestinal também pode ocorrer. |
Período latente assintomático |
Pode durar de 12 a 24 horas após a ingestão, mas, geralmente, até 48 horas. Os pacientes não costumam relatar sintomas evidentes nesse momento. |
Acidose metabólica severa |
Pode ocorrer náusea, vômitos e dores de cabeça por conta da acidose. |
Toxicidade ocular |
Distúrbios visuais por conta de fotofobia leve, visão turva, queda da acuidade visual e cegueira podem se desenvolver de 12 a 48 horas após ingestão. |
Neuropatia de início tardio |
Sintomas ocorrem de 12 a 24 horas após a exposição e incluem convulsões, coma ou edema cerebral, que podem se desenvolver por conta da acidose metabólica. Tremores, demência, rigidez e bradicinesia (lentidão dos movimentos) também já foram observados. |
A ocorrência de convulsões, coma, choques, acidose persistente, bradicardia e falência renal são indicadores de um mau prognóstico. Vale lembrar que a mortalidade é elevada em casos de intoxicação por metanol.
Intoxicação por metanol
O metanol é rapidamente absorvido via inalação, ingestão ou epiderme. Após a ingestão, o metanol é absorvido entre 30 e 60 minutos, dependendo da presença ou ausência de comida no trato gastrointestinal. Cerca de 60% a 80% do metanol inalado por seres humanos é absorvido no pulmão.
O metanol é prioritariamente metabolizado em nosso fígado, onde é oxidado, após diversas etapas, ao metanal (formaldeído), ácido metanoico (ácido fórmico) e, por fim, desintoxicado na forma de gás carbônico, CO2. Boa parte do metanol ingerido é convertida em CO2.
A toxicidade do metanol em humanos é decorrente da ação dos metabólitos, e não do metanol em si. O ácido metanoico é considerado o principal intoxicante. Seres humanos têm baixa habilidade em metabolisar o ácido metanoico, portanto a intoxicação pode ser fatal. Vale lembrar, ainda, que o ácido fórmico pode ultrapassar as barreiras gordurosas do cérebro, causando danos ao sistema nervoso central.

A dose mínima letal via ingestão para o metanol fica no intervalo de 300 a 1000 mg/kg corporal. Porém, ingestões em doses menores podem ser suficientes para afetar o sistema nervoso central e causar cegueira permanente, pancreatite aguda e falência renal. Doses pequenas de metanol podem ser encontradas em bebidas alcoólicas, sendo que doses maiores podem ser encontradas em produtos adulterados clandestinamente.
No Brasil, entre os meses de setembro e outubro de 2025, diversos casos por intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas, como gin e uísque, foram relatados, com alguns óbitos confirmados.
O Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, chegou a afirmar que se tratava de uma situação anormal e diferente do que consta no histórico do país em relação à intoxicação por metanol, levantando suspeitas da atuação de organizações criminosas na adulteração de bebidas.
Fontes
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METHANOL INSTITUTE. Applications. Methanol Institute. Disponível em: <https://www.methanol.org/applications/>. Acesso em 1 out. 2025
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CHENG, W. H.; KUNG, H. H. Methanol Production and Use. In: Chemical Industries. V. 57. Flórida, Estados Unidos: CRC Press, 1994.
CARDOSO, A.; LEÃO, L. Bebida com metanol: Brasil tem 43 casos e Saúde cria sala de monitoração. CNN. 1 out. 2025. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil/bebida-com-metanol-brasil-tem-43-casos-e-saude-cria-sala-de-monitoracao/>. Acesso em 1 out. 2025.