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Gás lacrimogêneo

Gás lacrimogêneo tem como alguns de seus efeitos: irritação nos olhos, na pele, nas vias respiratórias e lacrimação.

Explosão de uma granada contendo gás lacrimogêneo.
Explosão de uma granada contendo gás lacrimogêneo.
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O gás lacrimogêneo é um termo utilizado para os compostos químicos conhecidos como agentes lacrimejantes, que, entre diversos efeitos possíveis, podem causar a irritação dos olhos seguido de lacrimação. Por terem baixa toxicidade, são considerados armas não letais quando no combate e dispersão de manifestações.

O gás lacrimogêneo, no entanto, pode apresentar sérios efeitos a diversas regiões do corpo, como olhos, nariz, vias áereas, pele, boca, entre outras. Apesar de não ser considerado letal, a sua utilização em ambientes fechados pode ocasionar a morte dos infectados, dada a altíssima concentração que os compostos químicos podem atingir. Seu uso em larga escala começou no século XX, popularizando-se na Primeira Guerra Mundial.

Leia também: O uso de gases tóxicos na Primeira Guerra Mundial

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o gás lacrimogêneo

  • Gás lacrimogêneo é um termo que designa os agentes lacrimejantes.
  • Esses agentes podem causar diversos efeitos no nosso corpo, destacando-se irritação nos olhos, lacrimação, além de irritações na pele e vias respiratórias.
  • Eles têm baixa toxicidade, e, por isso, quando usados como armas não são considerados letais.
  • Existem cerca de 15 deles, destacando-se a cloroacetofenona, o ortoclorobenzilmalononitrila e a dibenzoxazepina.
  • Apesar de não serem considerados letais, sua utilização em ambientes fechados pode causar a morte, uma vez que os compostos químicos atingem concentração suficiente para serem tóxicos.
  • Uma pessoa, ao ser atingida por esses gases, deve se lavar com bastante água corrente e sabão, de modo a eliminá-los.
  • Começaram a ser utilizados em larga escala no começo do século XX, popularizando-se na Primeira Guerra Mundial.

O que é gás lacrimogêneo?

Policiais lançando gás lacrimogênio em direção a manifestantes em protesto.[1]
Policiais lançando gás lacrimogênio em direção a manifestantes em protesto.[1]

O gás lacrimogêneo é um termo comumente utilizado para designar os chamados agentes lacrimejantes, capazes de causar irritação nos olhos, acompanhada por lacrimação, como também irritações na pele e vias respiratórias. São considerados debilitantes, pois diminuem a capacidade combativa do indivíduo, porém com efeito temporário.

Existem cerca de 15 compostos que geram esse efeito, e, como característica, apresentam baixa toxicidade. Por isso, quando utilizados como armas, não são considerados letais.

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Fórmula do gás lacrimogêneo

Dentre os agentes lacrimogêneos, destacam-se três:

  • o ortoclorobenzilmalononitrila (CS), de fórmula C10H5ClN2;
  • a cloroacetofenona (CN), de fórmula C8H7OCl;
  • a dibenzoxazepina (CR), de fórmula C14H11N.

A tabela|1| a seguir traz algumas informações físico-químicas desses agentes lacrimejantes:

Fórmula estrutural

 

Fórmula estrutural da cloroacetofenona

 

Fórmula estrutural da ortoclorobenzilmalono nitrila

 

Fórmula estrutural da dibenzoxazepina

Nome

Cloroacetofenona (CN)

Ortoclorobenzilmalononitrila (CS)

Dibenzoxazepina (CR)

Ponto de ebulição (°C)

244-245

310-315

-

Ponto de fusão (ºC)

55

95

73

Forma/cor

Cristal/incolor

Cristal/branco acinzentado

Cristal/amarelo pálido

Solubilidade

Água (insolúvel), etanol (solúvel)

Água (parcialmente solúvel), solventes orgânicos (solúveis)

Água (pouco solúvel), solventes orgânicos (solúveis)

Dose letal* (mg.min/m³)

11.000

25.000

100.000

*Dose letal é a Ct L50, para 50% das pessoas expostas (por inalação).

Usos do gás lacrimogêneo

Os lacrimogêneos são utilizados como armas não letais, para dispersão de motins ou outros eventos de conflitos não armados, principalmente em ocorrências que envolvem a população interna do país, nas quais não seria plausível a ocorrência de mortes ou incapacitação definitiva da própria população.

Névoa de agentes lacrimejantes para a dispersão de manifestantes.[2]
Névoa de agentes lacrimejantes para a dispersão de manifestantes.[2]

Em geral, o gás lacrimogêneo é aplicado com granadas fumígenas, que, ao serem acionadas, provocam a queima do iniciador, que, por sua vez, promove a dispersão do agente químico. A formação do gás se dá por sublimação, e, por isso, o corpo da granada atinge uma alta temperatura.

No Brasil, por lei, somente o gás CS pode ser utilizado no controle de distúrbios sociais pela polícia.

Leia também: Armas biológicas — aquelas formadas por agentes causadores de doenças

Efeitos do gás lacrimogêneo

Apesar de os agentes lacrimejantes não serem considerados armas químicas de guerra, uma vez que foram desenvolvidos por terem uma boa margem de segurança, eles podem provocar ferimentos e até mesmo ser fatais se empregados em espaços sem ventilação adequada e por períodos prolongados.

Em um ambiente aberto, uma granada do gás CS gera uma nuvem de seis a nove metros de diâmetro, com concentração de 2000-5000 mg/m³ no centro dela (e menor nas extremidades). Contudo, em ambientes fechados, essa concentração pode se tornar muito maior.

Dados apontam que 31 mg/m³ de vapor de CN são intoleráveis aos humanos após três minutos de exposição. Já para o CS, estima-se que o vapor na concentração de 5 mg.min/m³ já é capaz de incapacitar 50% da população exposta. Entre os efeitos clínicos|2| mais comuns, estão os descritos a seguir.

Órgão/local afetado

Efeitos clínicos gerados

Olhos

Queima, irritação, injeção conjuntival, dilaceração, blefarospasmo (espasmos no músculo orbicular das pálpebras) e fotofobia.

Vias áreas

Espirros, tosses, aperto no peito, irritação e secreção.

Pele

Queimação e eritema

Nariz

Rinorreia e queimação

Trato gastroinstetinal

Enjoo, náuseas e vômito

Boca

Queimação nas membranas mucosas e salivação

Precauções com o gás lacrimogêneo

É comum as pessoas pensarem que o vinagre (ácido etanóico ou acético) é recomendado para amenizar os efeitos instantâneos do gás lacrimogêneo. Contudo, especialistas afirmam que esse ácido (mesmo sendo quimicamente fraco) não neutraliza as queimaduras e pode até aumentar a irritação da pele, principalmente nos olhos.

A melhor forma de combate é o uso de óculos bem vedados e máscaras com filtro de carvão ativado para evitar a inalação do composto gasoso. De toda forma, pode-se utilizar uma solução aquosa de 5% a 10% de bicarbonato de sódio em água para decompor o agente lacrimejante CN. Para o CS, essa solução serve para remover os cristais do agente.

Em alguns protestos, também é comum ver pessoas utilizando leite de magnésia (solução aquosa de hidróxido de magnésio) para a contenção dos efeitos adversos dos agentes lacrimejantes.

De toda forma, caso se esteja exposto ao gás lacrimogêneo, não se deve coçar a região. O ideal é buscar ar fresco e correr com o rosto voltado para o vento. Quando a contaminação for excessiva, as roupas devem ser removidas e lavadas em água fria, de modo a diminuir a evaporação dos gases.

A descontaminação da pele pode ser feita com sabão neutro ou detergente e água em grandes quantidades. A utilização apenas de água, mesmo que abundante, não é tão eficiente, já que a solubilidade dos compostos não se dá por completo.

Pessoa atingida por gás lacrimogêneo recebendo cuidados para minimização dos efeitos.[3]
Pessoa atingida por gás lacrimogêneo recebendo cuidados para minimização dos efeitos.[3]

Os usuários de lentes de contato devem tomar cuidado, pois os gases podem ficar impregnados nelas. Pessoas com asma ou outras doenças crônicas respiratórias devem ter muita cautela, pois os efeitos podem ser exacerbados.

Leia também: Por que o vinagre não é eficaz para neutralizar o gás lacrimogêneo?

Origem do gás lacrimogêneo

O primeiro registro de que se tem da utilização de um agente lacrimejante data do final do século XV, mais precisamente em 1492. Na ocasião, povos indígenas da região do México queimavam pimenta em óleo para criação de uma fumaça lacrimogênea e tóxica.

Durante o Brasil Colônia, índios Tupinambás, da região Nordeste, descobriram que, ao se queimar pimenta, poderiam criar uma fumaça de caráter lacrimogêneo que poderia ser utilizada para retirar seus inimigos da posição defensiva.

No entanto, apenas no século XX que tais agentes começaram a ser usados em larga escala. O primeiro deles foi o bromoacetato de etila, aplicado em 1912 na cidade de Paris, capital francesa. A popularização de fato dos gases lacrimogêneos ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, destacando-se os lacrimogêneos bromoacetato de etila, bromoacetona (BA), cianeto de bromobenzila (BBC), cloroacetona e brometo de xilila.

Notas

|1| Fontes: AMORIM, N. M. et al. Química e armas não letais: gás lacrimogêneo em foco. Química Nova Na Escola. v. 37, n. 2, p. 88-92, mai. 2015.

|2| Fonte: COLASSO, C. G.; TORRES, F. O. Aspectos químicos e toxicológicos dos agentes lacrimogêneos. Revista Militar de Ciência e Tecnologia. v. 36, n. 3, 2019.

Créditos da imagem

[1] Amir Ridhwan / Shutterstock

[2] PaulWong / Shutterstock

[3] Adirach Toumlamoon / Shutterstock

 

Por Stéfano Araújo Novais
Professor de Química 

Escritor do artigo
Escrito por: Stéfano Araújo Novais Stéfano Araújo Novais, além de pai da Celina, é também professor de Química da rede privada de ensino do Rio de Janeiro. É bacharel em Química Industrial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestre em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

NOVAIS, Stéfano Araújo. "Gás lacrimogêneo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/gas-lacrimogeneo.htm. Acesso em 20 de abril de 2024.

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