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Poesia-práxis

A poesia-práxis foi um movimento literário criado em 1961. Seu fundador e principal representante foi Mário Chamie. A principal obra desse autor é Lavra lavra.

Cassiano Ricardo – um dos representantes da poesia-práxis
Retrato em que aparece o criador da poesia-práxis, Mário Chamie, de óculos e bigode.
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Poesia-práxis foi um movimento literário surgido no Brasil em 1961. Seu fundador foi o poeta Mário Chamie, que lançou a definição de poema-práxis em seu Manifesto Didático. O poema-práxis valoriza o aspecto semântico das palavras, a geometria do poema e a temática social. A principal obra desse tipo de poesia é Lavra lavra, de Chamie, publicada em 1962.

Leia também: Afinal, o que é poesia?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre poesia-práxis

  • A poesia-práxis foi um movimento literário brasileiro surgido em 1961.

  • Sua principal característica reside no seu aspecto semântico.

  • Seu fundador e principal representante foi Mário Chamie.

  • A livro Lavra lavra, de Chamie, é o resultado prático de sua definição de poema-práxis.

O que é poesia-práxis?

A poesia-práxis foi um movimento literário criado por Mário Chamie, em 1961. A ideia desse poeta era fazer uma poesia fruto da prática, ou do refazimento, e criada para o uso ou consumo do leitor. Desse modo, o poema deve ser feito e refeito em busca da plurissignificação da palavra.

Assim, o livro Lavra lavra, de Chamie, fundou e exemplificou a poesia-práxis, cuja teorização coube a esse próprio autor. Segundo ele, o poema-práxis é “o que organiza e monta, esteticamente, uma realidade situada, segundo três condições de ação: a) o ato de compor; b) a área de levantamento da composição; c) o ato de consumir”.

A poesia-práxis, portanto, é resultado da prática ou composição autoral que considera o caráter visual ou geométrico do poema aliado a um conteúdo focado no aspecto semântico. Ela tem como objetivo o consumo, já que Chamie via o poema-práxis como objeto de uso por parte do leitor.

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Características da poesia-práxis

A teorização acerca da poesia-práxis ou poema-práxis foi feita por Chamie como base de leitura para o seu livro Lavra lavra. Desse modo, ficam evidenciadas características como:

  • valorização da palavra;

  • contradição;

  • plurissignificação;

  • temática social;

  • antialienação;

  • presentificação;

  • aspecto humanista.

A poesia-práxis está centrada, principalmente, no seu aspecto semântico. Seu criador defendeu a autonomia da palavra em relação a elementos externos ao poema. Essa independência no que diz respeito ao contexto é obtida pelas relações interlinguísticas entre os termos do poema, e não extralinguísticas.

A palavra, no processo de composição, faz um percurso que vai da “univocidade” (um só significado) para a “multivocidade” (vários significados). Essa multivocidade é obtida por meio do relacionamento entre as palavras que compõem o poema. Além disso, há um cuidado fonético, ou seja, a preocupação com a sonoridade do poema-práxis.

A poesia-práxis é resultado de uma dinâmica imanente, que não existe por si só, mas que ganha vida na leitura ou no consumo. A palavra é considerada em seu aspecto semântico, sintático e pragmático. No mais, Chamie chamou os versos de “unidades de composição” e viu o poema como uma unidade geométrica em seu aspecto exterior.

Leia também: Poesia concreta — tipo de poesia que trabalha artisticamente a palavra, o som e a imagem

Principal autor e obra da poesia-práxis

A poesia-práxis é fruto de um movimento literário de pouca amplitude. Assim, Mário Chamie (1933-2011) foi seu grande representante. Sua obra Lavra lavra, de 1962, é o resultado efetivo de sua teorização acerca do poema-práxis. Além dela, Chamie foi responsável por fundar a Revista Práxis.

Tal revista teve apenas cinco edições, entre os anos de 1962 e 1966. Publicava textos vanguardistas, não necessariamente representantes da poesia-práxis, apesar de servir como veículo divulgador do movimento. Assim, a revista recebeu colaborações de autores como Cassiano Ricardo (1895-1974) e José Guilherme Merquior (1941-1991).

Exemplos de poesia-práxis

Veja este trecho do poema “Rumo”, do livro Lavra lavra, de Mário Chamie:

Campo                   redor

do homem

longo pasto erva-e-odor.

Limpo                     cimo

do homem

muro baixo, alto rumo.

Fonte                     dentro

do homem

água alta e lume lento.

Clara                      sempre

no homem

lavra a lavra negro sêmen.

É evidente, na obra, o seu caráter geométrico, já que as palavras são distribuídas racionalmente pelas “unidades de composição”, na folha de papel. O destaque está na palavra “homem” (em seu sentido unívoco), sempre centralizada. Ela pode ser associada a “campo”, “rumo”, “fonte”, “negro” etc., de maneira a problematizar questões sociais, tais como o trabalho e a escravidão.

Agora vejamos este trecho do poema “Safra”, do mesmo livro de Chamie:

Um gesto e a peneira:
farelo
comido
à mesa comunga,
senhor, a fome
maior
parceira do homem:
na boca sem cuspe
de um seco lacustre.
[...]

Nesse poema-práxis, a questão fonética tem destaque na sonoridade provocada pela relação entre as palavras “fome” e “homem”, além de “cuspe” e “lacustre”. Há preocupação com a estrutura ou geometrização do poema. No mais, a temática social é apresentada por meio de palavras como “farelo”, “fome”, “homem” e “seco”.

Poema-processo

O poema-processo está relacionado a um texto poético de caráter experimental, surgido no Brasil em 1967. Ele tem teor antidiscursivo, já que a palavra não é a coisa mais importante nesse tipo de poema. Isso porque a ideia de poema é estendida de forma a se tornar sinônimo de arte e não de texto escrito.

Obras desse tipo são feitas por meio de figuras geométricas ou mesmo furos no papel. Desse modo, o poema-processo acaba se configurando mais em um objeto artístico e menos em um objeto literário. Seu principal representante foi o poeta e artista gráfico Wlademir Dias-Pino (1927-2018).

Contexto histórico da poesia-práxis

Em 1961, ano de criação da poesia-práxis, o mundo estava dividido entre países capitalistas e socialistas. O conflito político entre essas nações opostas ideologicamente ficou conhecido como Guerra Fria, iniciada em 1947. No Brasil capitalista, o governo desenvolvimentista de JK (1902-1976) dava lugar à política de austeridade do conservador Jânio Quadros (1917-1992).

Nesse contexto, surgiu a poesia-práxis, que busca ressignificar a realidade por meio da expressão poética, e que também defende o caráter social da poesia, que não pode estar desvinculada da realidade do povo brasileiro, bastante marcada pela desigualdade social.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

CARVALHO, Carlos André Rodrigues de. Tropicalismo — geleia geral das vanguardas poéticas contemporâneas brasileiras. 2006. Dissertação (Mestrado em Teoria da Literatura) – Centro de Artes e Comunicação, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

CHAMIE, Mário. Poema-práxis: manifesto didático. In: CHAMIE, Mário. Lavra lavra. São Paulo: Massao Ohno, 1962.

CITELLI, Adilson. Mário Chamie: o poeta em busca de novas formas de comunicação. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 18, n. 2, jul./ dez. 2013.

SILVA, Laura Rodrigues da. A metáfora da água na poética de Miguel Jorge. 2019. Dissertação (Mestrado em Língua, Literatura e Interculturalidade) – Universidade Estadual de Goiás, Goiás, 2019.

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Poesia-práxis"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/poesia-praxis.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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