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Orfismo

O orfismo foi a primeira fase do modernismo português, inaugurada com a publicação da revista Orpheu. Fernando Pessoa foi o representante do orfismo.

Capa da edição número 1 da revista Orpheu, que inaugurou o modernismo português em 1915.
Capa da edição número 1 da revista Orpheu, que inaugurou o modernismo português em 1915.
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O orfismo foi a primeira fase do modernismo português. Ele teve início em 1915, com a publicação da revista Orpheu, e terminou em 1927, com a publicação da revista Presença. O início do modernismo português apresentou elementos como nacionalismo, ironia e antiacademicismo. Seu principal representante foi o poeta Fernando Pessoa.

 Leia também: Como foi a primeira fase do modernismo no Brasil

Tópicos deste artigo

Resumo sobre orfismo

  • O orfismo foi a primeira fase do modernismo português, a qual vigorou de 1915 a 1927.

  • A sua origem está associada à publicação da revista modernista Orpheu, em 1915.

  • A fase inicial do modernismo português foi marcada pela irreverência e inovação.

  • O principal representante do orfismo foi o poeta português Fernando Pessoa.

  • O modernismo português apresentou três fases: orfismo, presencismo e neorrealismo.

O que é orfismo?

Orfismo é como ficou conhecida a primeira fase do movimento modernista na literatura portuguesa. O nome veio da revista Orpheu, criada em 1915, responsável pela introdução do modernismo em Portugal. O orfismo durou de 1915 a 1927.

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Contexto histórico do orfismo

No ano de 1910, a monarquia portuguesa chegava ao fim e dava lugar à república. O discurso político republicano defendia o progresso. Com o novo regime, Portugal buscava uma nova identidade. Por isso, adotou um novo hino nacional, uma nova bandeira e uma nova Constituição.

Anos depois, a Europa estava envolvida na Primeira Guerra Mundial, a qual teve início em 1914 e duraria até 1918. A arte passava por mudanças significativas, pois artistas vanguardistas questionavam antigos modelos acadêmicos. É nesse contexto nacionalista e vanguardista que surgiu o orfismo.

Veja também: Como a Primeira Guerra Mundial influenciou os artistas modernistas?

Quais são as características do orfismo?

As obras do orfismo ou da geração de Orpheu possuem as seguintes características:

  • inovação;

  • antiacademicismo;

  • irreverência;

  • nacionalismo;

  • ironia;

  • crítica à burguesia;

  • caráter futurista e cubista;

  • presença de versos livres.

Representantes do orfismo

  • Ângelo de Lima (1872-1921)

  • Raul Leal (1886-1964)

  • Fernando Pessoa (1888-1935)

  • Mário de Sá-Carneiro (1890-1926)

  • Almada Negreiros (1893-1970)

Diferenças entre orfismo e presencismo

ORFISMO

PRESENCISMO

Primeira fase do modernismo português.

Segunda fase do modernismo português.

Durou de 1915 a 1927.

Durou de 1927 a 1940.

Foi fundado pela revista Orpheu.

Foi fundado pela revista Presença.

Teve caráter nacionalista e contestador.

Teve caráter existencialista, psicológico e alienante.

Revista Orpheu

Ilustração representando Fernando Pessoa, integrante do orfismo.
Fernando Pessoa foi um dos fundadores da revista Orpheu e um dos maiores autores dessa geração.[1]

A revista literária Orpheu foi fundada, em 1915, pelos escritores Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Por meio dela, esses autores inauguraram o modernismo em Portugal. Era uma revista trimestral; porém, teve apenas dois números. O objetivo da publicação era divulgar textos condizentes com as inovações vanguardistas da época. Ela se tornou um marco do modernismo português.

Um dos poemas publicados nessa revista foi “Ode triunfal”, de Fernando Pessoa. O longo texto fez parte da edição número 1, em 1915. O poema é de autoria de um de seus heterônimos, Álvaro de Campos, e traz uma perspectiva futurista, como é possível ver nesta estrofe:

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
[...]

O poema apresenta versos livres e enaltece a máquina, símbolo do mundo moderno. Pretendeu escandalizar a classe burguesa da época, não só pelo seu aspecto inovador e antiacadêmico, como também por expor, de forma irônica e crua, questões de cunho social e moral:

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! —
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
[...]

Saiba mais: Mensagem — outra importante obra modernista de Fernando Pessoa

Modernismo em Portugal

O modernismo em Portugal dividiu-se em três fases:

  • orfismo ou geração de Orpheu (1915-1927) — nacionalista e antiacadêmico;

  • presencismo (1927-1940) — voltado para a questão existencial;

  • neorrealismo (1939-1974) — focado no realismo social.

Exercícios resolvidos sobre orfismo

Questão 01 (UFJF)

Cristãos, pagãos, maometanos,
A qual de vós fará o Mistério a vontade?
A incerteza do que é a morte é o que nos vale na vida.
O desconhecimento do que é a morte é o sentido da vida.
O desconhecermos a morte é que faz a beleza da vida.

Quem sabe o valor exato de uma vida?
Sei que há uma vida, e que apagam essa vida — não sei é
quem apaga
Mas sei que de cada vida que passa há um universo em mim.

PESSOA, Fernando. Poesia/ Álvaro de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 258. Adaptado.

Álvaro de Campos atribui o sentido e a beleza da vida ao desconhecimento da morte. Seu poema apresenta, também, um desconhecimento de outra ordem, com o qual o eu lírico parece estar à vontade. Assinale a alternativa que apresenta tal desconhecimento.

A) Os meios pelos quais cada cristão pode chegar ao paraíso.

B) A natureza da fé de muçulmanos e judeus.

C) O sentido e a beleza da vida, especialmente quando está próxima do fim.

D) A existência ou identidade do ser que presida à morte.

E) As diferenças que motivam a guerra santa entre cristãos, pagãos e maometanos.

Resolução:

Alternativa D

Álvaro de Campos é um dos heterônimos de Fernando Pessoa, principal representante do orfismo. Em seu poema, quando o eu lírico diz, na segunda estrofe, que ele sabe que “há uma vida” e que “apagam essa vida”, mas que ele não sabe “é quem [a] apaga”, ele está mostrando desconhecer a “existência ou identidade do ser que presida à morte”.

Questão 02

Sobre o orfismo, ou primeira fase do modernismo português, é possível afirmar:

A) apresentou caráter inovador, já que valorizou versos academicamente regulares.

B) possuiu aspecto irreverente e irônico ao contestar valores estéticos tradicionais.

C) sofreu influência de movimentos de vanguarda, como o impressionismo.

D) seus principais representantes foram Fernando Pessoa e Eça de Queirós.

E) sua principal característica foi enaltecer a cultura indígena brasileira.

Resolução:

Alternativa B

O orfismo surgiu, em 1915, com a publicação da revista Orpheu. Essa primeira fase do modernismo português apresentou irreverência e ironia ao contestar a arte tradicional ou acadêmica. No mais, o impressionismo não foi um movimento de vanguarda, e Eça de Queirós foi um escritor realista e não modernista.

Crédito da imagem

[1]Wikimedia Commons

Fontes

COSTA, Edson Tavares. Licenciatura em Letras/Português: literatura portuguesa. Campina Grande: EDUEPB, 2011.

PESSOA, Fernando. Ode triunfal. In: PESSOA, Fernando. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

VALENÇA, Ana Maria Macedo; RAMOS, Magna Maria de Oliveira; CARVALHO, Maria Leônia Garcia Costa. Literatura portuguesa III. São Cristóvão: UFS, 2011.   

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Orfismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/orfismo-primeira-fase-modernismo-portugal.htm. Acesso em 18 de abril de 2024.

De estudante para estudante


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Lista de exercícios


Exercício 1

Estão, entre os principais representantes do Orfismo, os seguintes escritores:

a) Miguel Torga e José Saramago.

b) Florbela Espanca e Almada Negreiros.

c) Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.

d) José Régio e Eça de Queirós.

e) Miguel Esteves Cardoso e Sophia de Mello Breyner Andresen.

Exercício 2

Estão, entre as principais características da primeira fase do modernismo em Portugal:

 

I. Tinha como ideal interrogar o sentido da existência humana. Seus principais representantes foram os escritores José Régio, Miguel Torga, João Gaspar Simões, Adolfo Casais Monteiro e Branquinho da Fonseca.

II. O Orfismo defendeu a liberdade literária e rejeitou a ideia de que a arte pudesse submeter-se a quaisquer princípios que não os artísticos, livrando-se assim dos academicismos e do compromisso com uma literatura socialmente engajada.

III. O Orfismo apresentou uma nova poesia em que o homem e seu espanto de existir eram a principal temática. Houve uma ruptura com a literatura de feição simbolista e com a poesia de caráter histórico: o futuro, e apenas ele, interessava.

IV. Dessa geração, fortemente influenciada pelo romance regionalista brasileiro de 1930, destacam-se os escritores Alves Redol, Manuel da Fonseca, Afonso Ribeiro, Joaquim Namorado, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Mário Braga e Soeiro Pereira Gomes.

V. Entre os principais representantes do Orfismo, estão Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Raul Leal, Luís de Montalvor e o brasileiro Ronald de Carvalho.

a) III e V.

b) I, II e IV.

c) II e V.

d) I, IV e V.

e) I e IV.

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