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Fagundes Varela

Fagundes Varela é um autor brasileiro da segunda geração romântica, mas sua poesia também possui traços da terceira geração, uma vez que apresenta crítica social.

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 Fagundes Varela nasceu em 17 de agosto de 1841, em Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. Sua família se mudava com frequência, pois o pai do autor era juiz. Em 1862, o escritor iniciou a faculdade de Direito em São Paulo, curso que não concluiu. No mais, tinha uma vida financeira instável, frequentou a vida boêmia e publicou textos em alguns periódicos da época.

A poesia romântica de Varela faz parte da segunda geração, portanto, apresenta características como pessimismo, exagero sentimental e morbidez. No entanto, o autor, que faleceu em 18 de fevereiro de 1875, também apresenta traços da primeira geração — bucolismo e patriotismo — e da terceira — crítica social e temática abolicionista.

Leia também: Augusto dos Anjos – o mais sombrio dos poetas brasileiros

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Biografia de Fagundes Varela

“O poeta Fagundes Varela”, obra de Modesto Brocos Gómez (1852-1936).
“O poeta Fagundes Varela”, obra de Modesto Brocos Gómez (1852-1936).

Fagundes Varela (ou Luís Nicolau Fagundes Varela) nasceu em 17 de agosto de 1841, em Rio Claro (na época, vila de São João Marcos), no estado do Rio de Janeiro. Seu pai era juiz nessa vila. Ali, o poeta viveu sua infância em uma fazenda. Em 1851, devido à profissão do pai, mudou-se para Catalão, no estado de Goiás.

Em seguida, sua família morou em Angra dos Reis (a partir de 1852), onde Varela ficou amigo do escritor José Ferreira de Menezes; em Petrópolis (de 1854 a 1858); e em Niterói, para onde se mudou em 1858. Ainda, no ano seguinte, o escritor partiu rumo a São Paulo, onde, em 1862, iniciou a faculdade de Direito.

Como outros poetas da época, o autor se tornou um boêmio. Também publicou poemas em periódicos. Seu artigo “O drama moderno” foi publicado na Revista Dramática, em 1860. Escreveu, também, contos para o Correio Paulistano, em 1861. No ano seguinte, chocou sua família ao se casar com uma artista de circo chamada Alice Guilhermina Luande. O circo, onde o poeta chegou a recitar alguns poemas, era do pai de sua esposa.

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Fagundes Varela enfrentou dificuldades financeiras e se entregou ao alcoolismo. Isso não impediu que continuasse a escrever nem que, em 1865, se transferisse para a faculdade de Direito do Recife. Contudo, nesse ano, sua esposa faleceu.

Assim, o poeta precisou voltar a São Paulo, onde, no ano seguinte, decidiu retomar o curso de Direito, mas logo o abandonou novamente e voltou a viver na fazenda paterna. Então se casou com sua prima Maria Belisária de Brito Lambert. Em 1870, mudou-se para Niterói, onde morreu em 18 de fevereiro de 1875, vítima de derrame cerebral.

Leia também: Casimiro de Abreu – outro grande poeta romântico da segunda geração

Características da obra de Fagundes Varela

Fagundes Varela é considerado um autor do ultrarromantismo brasileiro, portanto, suas poesias apresentam as seguintes características:

  • Fuga da realidade
  • Morbidez
  • Pessimismo
  • Exagero sentimental
  • Individualismo
  • Temática amorosa
  • Idealização da mulher
  • Mal do século: tédio e melancolia
  • Locus horrendus: lugar tempestuoso

Além disso, a poesia de Varela é marcada pela angústia e pelo sofrimento. Alguns de seus poemas apresentam o bucolismo e o patriotismo da primeira geração. O poeta possui, também, versos com temática religiosa, e, apesar de fazer parte, oficialmente, da segunda geração romântica, é considerado, por alguns estudiosos, como um autor de transição entre a segunda e a terceira geração. Desse modo, sua poesia apresenta outras peculiaridades, como crítica social e temática abolicionista.

Obras de Fagundes Varela

  • Noturnas (1861)
  • O estandarte auriverde (1863)
  • Vozes da América (1864)
  • Cantos e fantasias (1865)
  • Cantos meridionais (1869)
  • Cantos do ermo e da cidade (1869)
  • Anchieta ou O Evangelho nas selvas (1875)
  • Cantos religiosos (1878)
  • Diário de Lázaro (1880)

“Cântico do calvário”

A tristeza e a morte são temáticas típicas do romantismo.
A tristeza e a morte são temáticas típicas do romantismo.

O poema “Cântico do calvário”, publicado no livro Cantos e fantasias, é um dos mais conhecidos de Fagundes Varela. Ele é dedicado à memória do filho do autor, Emiliano, que morreu com apenas três meses de vida, em 11 de dezembro de 1863:

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!

Na sequência, o eu lírico fala de lágrimas de saudade pela “ventura extinta”, pelo “filho de minh’alma”, “Última rosa/ Que neste solo ingrato vicejava!”. A criança morta é vista como uma esperança que se foi. Assim, o eu lírico lamenta não poder mais embalar o filho sobre os joelhos nem ter o consolo de olhar para os seus olhos. A seguir, o pai menciona a própria vida angustiante e sofrida, da qual ele quis fugir por meio da morte:

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n’água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel?... E tudo embalde!

O eu lírico considera injusto o fato de ele, mesmo buscando a morte, estar vivo, enquanto o filho, “tão jovem,/ Tão puro ainda, ainda n’alvorada”, ser escolhido para morrer. Então se lembra da primeira vez que pegou a criança nos braços e a chamou de “meu filho!”. O eu lírico diz que “Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!”, e como punição ao seu erro, “Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!”.

A voz poética afirma que o filho não nasceu no luxo, mas teve mais do que os príncipes da Terra, pois teve “altares de afeição sem termos!”, além de inspirar “fecundos poemas” e trazer a alegria para aquele que, antes, só tinha tristezas. O pai, então, finaliza seu diálogo com o filho morto da seguinte maneira:

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
[...]

Assim, “Cântico do calvário” é um longo poema, com versos decassílabos (10 sílabas poéticas). Apresenta temática da morte, típica da segunda geração romântica, e o exagero sentimental, presente nos adjetivos e exclamações. No mais, é possível perceber, também, o caráter individualista, já que o eu poético se volta, completamente, para a sua própria dor.

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Fagundes Varela"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/fagundes-varela.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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