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Concretismo

O Concretismo é um movimento artístico surgido no século XX. Essa corrente literária é caraterizada pela racionalidade e pelo trabalho experimental com o espaço.

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Concretismo é um movimento artístico, e também uma corrente literária, caracterizado pela objetividade e pelo trabalho experimental com o espaço. Ele surgiu no século XX, como reflexo de uma realidade marcada pela racionalidade e pelo avanço tecnológico.

Nesse século, ocorreram duas guerras mundiais e a ameaça de uma guerra nuclear. Já no Brasil, a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi grande propulsor do Concretismo.

A poesia concreta brasileira surgiu com a publicação da revista Noigandres, em 1952, de responsabilidade de poetas como Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos. No entanto, o lançamento oficial do Concretismo brasileiro ocorreu em 1956, na Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo. Além dos poetas citados, são cofundadores do Concretismo o boliviano Eugen Gomringer (na Suíça) e o brasileiro Öyvind Fahlström (na Suécia).

Leia também: Barroco – movimento literário que também teve como base as artes plásticas

Tópicos deste artigo

Contexto histórico do Concretismo

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), houve o fortalecimento de movimentos ultranacionalistas como o fascismo italiano e o nazismo alemão, os quais levaram à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que culminou no lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Assim, enquanto a Europa iniciava a sua reconstrução, o mundo dividia-se entre duas grandes potências econômicas: Estados Unidos e a extinta União Soviética.

Surgia, então, a Guerra Fria (1947-1991) — disputa política, econômica e ideológica entre países capitalistas e socialistas. Se, nos Estados Unidos, ocorria, na década de 1950, uma perseguição e prisão de supostos comunistas americanos, o chamado macarthismo (1950-1957) —, na União Soviética, mesmo na Era Pós-Stalin (1953-1991), havia a censura e perseguição a cidadãos opositores ao regime.

No continente americano, um novo país socialista surgia. Apoiado pela União Soviética, e com a mesma política de censura e perseguição a opositores no país, Fidel Castro (1926-2016) transformava-se em uma grande ameaça para os Estados Unidos, pois podia permitir que a União Soviética fizesse uso de seu território, Cuba, para atacar o país da América do Norte. Havia, então, uma forte ameaça de guerra nuclear.

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Nesse conflito, o Brasil ficou do lado dos Estados Unidos e, como essa nação, empreendeu também a sua perseguição e prisão de comunistas. Porém, após o suicídio de Getúlio Vargas (1882-1954), o novo presidente, Juscelino Kubitschek, manteve seu foco na construção de Brasília e empreendeu uma política desenvolvimentista que levou ao problemático e acelerado crescimento urbano.

Além disso, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o cinema e a televisão (que chegou ao Brasil em 1950) foram usados em prol do entretenimento e do estímulo ao consumo capitalista. Era o início de um período que alguns historiadores entendem como Pós-Modernidade, marcado pelo consumo exagerado e pelo vazio existencial.

Leia também: Indústria Cultural – propaganda do capitalismo que prega a ideologia do consumismo

Características do Concretismo

Manifesto da Arte Concreta, publicado na revista Art Concret, Paris, em 1930.
Manifesto da Arte Concreta, publicado na revista Art Concret, Paris, em 1930.

A arte concreta precedeu o movimento concretista na literatura. Surgiu, portanto, no início do século XX, mais precisamente em 1930, quando o holandês Theo van Doesburg (1883-1931) publicou o Manifesto da Arte Concreta. Assim, ela apresenta as seguintes características:

  • Linguagem autônoma
  • Geometrismo
  • Temática universal
  • Planejamento
  • Simplicidade
  • Objetividade
  • Anti-Impressionismo
  • Antinacionalismo
  • Antirregionalismo
  • Antissentimentalismo
  • Oposição à arte abstrata
  • Não representação da natureza
  • Valorização da técnica, dos elementos formais
  • Metalinguagem: a obra representa a si própria
  • Defesa da especificidade de cada segmento artístico

Autores concretistas

A poesia concreta nasceu, concomitantemente, no Brasil, na Suíça e na Suécia. No entanto, as suas características básicas foram fundamentadas aqui, no Brasil. Na Suíça, o boliviano Eugen Gomringer, considerado um dos criadores da poesia concreta em língua alemã, foi o responsável pela divulgação do Concretismo, nesse país, na década de 1950. A seguir, reproduzimos um de seus poemas:

baum
baum kind

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kind hund

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hund haus

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No Brasil, os pais da poesia concreta são Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos, autores do Plano-piloto para poesia concreta (1958), um manifesto em que os autores apontam os precursores da poesia concreta e caracterizam suas obras:

  • O francês Stéphane Mallarmé (1842-1898): “espaço e recursos tipográficos como elementos substantivos da composição”.
  • O americano Ezra Pound (1885-1972): “método ideogrâmico”.
  • O irlandês James Joyce (1882-1941): “palavra-ideograma, interpenetração orgânica de tempo e espaço, atomização de palavras, tipografia fisiognômica, valorização expressionista do espaço”.
  • O francês Guillaume Apollinaire (1880-1918): “como visão, mais do que como praxis. futurismo, dadaísmo: contribuições para a vida do problema”.
  • Oswald de Andrade (1890-1954): “em comprimidos, minutos de poesia”.
  • João Cabral de Melo Neto (1920-1999): “discurso direto, economia e arquitetura funcional do verso”.

Além dos irmãos Campos e de Décio Pignatari, o brasileiro Öyvind Fahlström (1928-1976), autor do Manifesto para a poesia concreta, de 1953, é considerado um dos fundadores da poesia concreta, além de ser o seu divulgador na Suécia.

Outros autores de poesia concreta:

Poema de Salette Tavares, do livro Poesia gráfica, de 1995.
Poema de Salette Tavares, do livro Poesia gráfica, de 1995.

Veja também: Cinco poemas de Paulo Leminski 

Obras do Concretismo

Capa do livro Galáxias, de Haroldo de Campos, publicado pela Editora 34. [1]
Capa do livro Galáxias, de Haroldo de Campos, publicado pela Editora 34. [1]
  • Dos precursores

  • Stéphane Mallarmé: Um lance de dados (1897)
  • Ezra Pound: Os cantos (1925)
  • James Joyce: Ulysses (1922) e Finnegans Wake (1939)
  • Guillaume Apollinaire: Caligramas (1918)
  • Oswald de Andrade: Pau-brasil (1925)
  • João Cabral de Melo Neto: O engenheiro (1945), Psicologia da composição (1947) e Antiode (1947)
  • Dos fundadores

  • Eugen Gomringer: Constelações (1953)
  • Öyvind Fahlström: Bord (1966)
  • Haroldo de Campos: Galáxias (1984)
  • Décio Pignatari: Organismo (1960)
  • Augusto de Campos: Clip-poemas (1997)
  • De outros autores

  • E. M. de Melo e Castro: Ideogramas (1962)
  • Salette Tavares: Poesia gráfica (1995)
  • Arnaldo Antunes: Tudos (1991)
  • Paulo Leminski: caprichos & relaxos (1983)

Concretismo no Brasil

Poema “Luxo” (1965), de Augusto de Campos, do livro Viva vaia (1979).
Poema “Luxo” (1965), de Augusto de Campos, do livro Viva vaia (1979).

Noigandres é o nome de um grupo criado em 1952, em São Paulo, formado por poetas como Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos. É também o título da revista criada por esse grupo, cujos integrantes são responsáveis pelo surgimento da poesia concreta brasileira. Para eles, a poesia deveria refletir a sociedade moderna, de forma a unir o experimentalismo formal à crítica da realidade.

Porém, o lançamento oficial do Concretismo brasileiro ocorreu na Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, no Museu de Arte Moderna em São Paulo. Nesse evento, artistas nacionais de vanguarda — das artes visuais e da poesia concreta — apresentaram suas obras. Nessa exposição, foram mostrados cartazes-poemas, pinturas, desenhos e esculturas dos seguintes artistas:

  • Décio Vieira (1922-1988)
  • Rubem Ludolf (1932-2010)
  • César Oiticica
  • Hélio Oiticica (1937-1980)
  • Lygia Pape (1927-2004)
  • Lygia Clark (1920-1988)
  • Amilcar de Castro (1920-2002)
  • Franz Weissmann (1911-2005)
  • Alexandre Wollner (1928-2018)
  • Alfredo Volpi (1896-1988)
  • Aluísio Carvão (1920-2001)
  • Kazmer Féjer (1923-1989)
  • Ferreira Gullar (1930-2016)
  • Geraldo de Barros (1923-1998)
  • Hermelindo Fiaminghi (1920-2004)
  • Ivan Serpa (1923-1973)
  • Judith Lauand
  • Lothar Charoux (1912-1987)
  • Luiz Sacilotto (1924-2003)
  • Maurício Nogueira Lima (1930-1999)
  • Waldemar Cordeiro (1925-1973)
  • Décio Pignatari (1927-2012)
  • Haroldo de Campos (1929-2003)
  • Augusto de Campos
  • Ronaldo Azeredo (1937-2006)

Acesse também: Modernismo no Brasil – ruptura com os padrões clássicos de arte

Poesia concreta

Poema de Décio Pignatari, do livro Poesia pois é poesia (1986).
Poema de Décio Pignatari, do livro Poesia pois é poesia (1986).

A poesia concreta possui as seguintes características:

  • Experimentação formal ou estrutural
  • Quebra radical com a poesia lírica
  • Oposição à poesia intimista
  • Valorização da materialidade das palavras
  • Caráter verbivocovisual: palavra, som e imagem
  • Ausência de versos
  • Signo visual e plurissignificativo
  • Uso de elipses
  • Defesa do poema-objeto
  • Ressignificação do espaço em branco da página
  • Exploração do espaço da página
  • Preocupação com a ordenação das palavras
  • Disposição não linear dos vocábulos
  • Autonomia estética: independe de subjetividades
  • Exploração da metalinguagem

Neoconcretismo

Em 1959, com a publicação do Manifesto Neoconcreto, alguns artistas realizaram uma ruptura com o Concretismo. Entre eles, estava o poeta Ferreira Gullar, que assim caracterizava a nova estética:

  • Arte interativa: participativa
  • Poema não objeto: somente se realiza ao ser lido
  • Antipositivismo: contra os excessos racionais concretistas
  • Expressionista: em oposição à objetividade
  • Poesia temporal: contrária à universalidade concreta

Em suma, o que diferencia essa nova estética da anterior, ou seja, do Concretismo, é a interação entre obra e receptor, associada à expressão do artista — elementos que, segundo os neoconcretos, estariam ausentes no Concretismo. Um exemplo são os livros-poemas de Ferreira Gullar. Neles, o sentido da obra vai se construindo à medida que o leitor passa as páginas, as quais, às vezes, assumem formatos especiais de acordo com a intenção expressiva do poeta.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – (ENEM) O poema a seguir pertence à poesia concreta brasileira. O termo latino de seu título significa “epitalâmio”, poema ou canto em homenagem aos que se casam.

Considerando que símbolos e sinais são utilizados geralmente para demonstrações objetivas, ao serem incorporados no poema “Epithalamium — II”,

A) adquirem novo potencial de significação.

B) eliminam a subjetividade do poema.

C) opõem-se ao tema principal do poema.

D) invertem seu sentido original.

E) tornam-se confusos e equivocados.

Resolução

Alternativa A. Os símbolos e sinais incorporados no poema adquirem novo potencial de significação, como, por exemplo, o S da palavra inglesa She, que pode representar uma serpente.

Questão 2 - (ENEM)

da sua memória

mil

e

mui

tos

out

ros

ros

tos

sol

tos

pou

coa

pou

coa

pag

amo

meu

ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998.

Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela

A) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional.

B) reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor.

C) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças.

D) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças.

E) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética.

Resolução

Alternativa D. No poema, é possível perceber a fragmentação de palavras como, por exemplo, “mui/ tos”. Além disso, a distribuição delas, no espaço, sugere o estreitamento das lembranças, mencionadas no título.

Questão 3 - (ENEM)

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set. 2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prol Gráfica, 2012.

O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem

A) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.

B) forma clássica da construção poética brasileira.

C) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.

D) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética.

E) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.

Resolução

Alternativa A. As anotações são informações extras, de caráter histórico-cultural, para direcionar, ou facilitar, a leitura.

Nota

|1| Baum = árvore. Kind = criança. Hund = cão. Haus = casa.

Crédito da imagem

[1] Editora 34 (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Concretismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/concretismo.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

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