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Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar é uma poetisa fluminense. Ela é uma das principais representantes da poesia marginal dos anos 1970. Sua obra mais famosa é o livro A teus pés.

Foto de Ana Cristina Cesar, na capa do livro Ana C., de Ítalo Moriconi, publicado pela editora e-galáxia.[1]
Foto de Ana Cristina Cesar, na capa do livro Ana C., de Ítalo Moriconi, publicado pela editora e-galáxia.[1]
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Ana Cristina Cesar foi uma poetisa brasileira. Ela nasceu em 2 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Mais tarde, fez faculdade de Letras, estudou na Inglaterra, atuou como professora de Inglês e Português, trabalhou como consultora da editora Labor, além de escrever textos para diversos periódicos.

A autora, que morreu em 29 de outubro de 1983, no Rio de Janeiro, é um dos principais nomes da poesia marginal dos anos 1970. Suas obras falam do cotidiano, apresentam traços autobiográficos e possuem caráter fragmentado. Um de seus livros mais conhecidos é a obra poética A teus pés.

Leia também: Paulo Leminski — outro nome da poesia marginal

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Ana Cristina Cesar

  • A escritora brasileira Ana Cristina Cesar nasceu em 1952 e morreu em 1983.

  • Além de poetisa, também foi professora, consultora e pesquisadora.

  • Ela faz parte da Geração Mimeógrafo, responsável pela “poesia marginal” dos anos 1970.

  • Sua poesia, em verso e prosa, apresenta ironia e elementos autobiográficos.

  • A teus pés, obra poética em verso e prosa, é um de seus livros mais famosos.

Videoaula sobre Ana Cristina Cesar

Biografia de Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar nasceu em 2 de junho de 1952, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, passou a frequentar o maternal do Colégio Bennett. Poetisa precoce, com quatro anos de idade, ditava poesias para a mãe escrever. Mais tarde, em 1964, começou a estudar no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti.

Nesse mesmo ano, ela e a família fizeram uma viagem ao Uruguai. Já em 1966, frequentava a Igreja Presbiteriana de Ipanema, onde era diretora do jornal mimeografado Comunidade. Em 1969, como participante de um programa de intercâmbio da juventude cristã, se mudou para Londres, onde estudou na Richmond School para meninas.

De volta ao Rio de Janeiro, em 1970, se tornou professora de Inglês do Instituto de Cultura Anglo-Brasileira. Iniciou o curso de Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1971. Paralelamente à faculdade e às aulas de Inglês, dava aulas de Português, como voluntária no Curso Artigo 99.

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Em 1972, viajou ao Paraguai e também conheceu cidades do Nordeste brasileiro. Já em 1973, trabalhou como professora de Português no Curso Guimarães Rosa. E novamente voltou ao Nordeste, como parte da equipe do Cenpla (Centro de Estudos, Pesquisa e Planejamento).

No ano de 1974, passou a trabalhar como professora de Inglês na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa. Obteve a licenciatura em Letras no ano de 1975 e começou a fazer trabalhos de tradução. Trabalhou como consultora da editora Labor e escreveu para diversos periódicos, como Opinião, Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, Folha de S.Paulo, Veja e IstoÉ.

Em 1976, iniciou seu trabalho como professora de Português e Literatura no Instituto Souza Leão e no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti. Em 1977, viajou à Argentina. No ano de 1978, realizou pesquisa junto à Fundação Nacional de Arte sobre a Literatura no cinema documentário.

Concluiu o mestrado em comunicação no ano de 1979, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Então, partiu para a Inglaterra, onde estudou na Universidade de Essex, recebendo o título de Master of Arts. Depois, foi para a França, Grécia, Espanha, Holanda e Itália.

No início de 1981, voltou ao Brasil e passou a trabalhar no Departamento de Análise e Pesquisa da Tevê Globo. Porém, enfrentava várias crises de depressão. Em 1983, visitou os pais no Chile, onde eles estavam morando. E acabou cometendo suicídio em 20 de outubro de 1983, no Rio de Janeiro.

Características da obra de Ana Cristina Cesar

Ana Cristina Cesar escreveu textos que fazem parte da Literatura marginal dos anos 1970. É, portanto, integrante da Geração Mimeógrafo, que produziu poesia independente, ou seja, sem o aval de editoras. Assim, as obras da autora possuem estas características:

  • liberdade de criação;

  • antiacademicismo;

  • fragmentação;

  • caráter intimista;

  • temática do cotidiano;

  • mescla de verso e prosa;

  • ironia;

  • crítica social;

  • voz feminina;

  • conflito existencial;

  • elementos autobiográficos;

  • linguagem coloquial.

Principais obras de Ana Cristina Cesar

  • Cenas de abril (1979) — poesia

  • Correspondência completa (1979) — poesia

  • Luvas de pelica (1980) — poesia

  • Literatura não é documento (1980) — ensaio

  • A teus pés (1982) — poesia

  • Inéditos e dispersos (1985) — poesia

  • Crítica e tradução (1999) — ensaios e traduções

Leia também: Clarice Lispector — um dos nomes mais conhecidos da Literatura brasileira

A teus pés

Capa do livro A teus pés, de Ana Cristina Cesar, publicado pela editora Companhia das Letras.[2]
Capa do livro A teus pés, de Ana Cristina Cesar, publicado pela editora Companhia das Letras.[2]

A teus pés é a obra mais conhecida da poetisa. Possui textos poéticos em verso (livre) e em prosa. Alguns deles não apresentam títulos, como este:

O tempo fecha.

Sou fiel aos acontecimentos biográficos.

Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitos que não largam! Minhas saudades ensurdecidas por cigarras! O que faço aqui no campo declamando aos metros versos longos e sentidos? Ah que estou sentida e portuguesa, e agora não sou mais, veja, não sou mais severa e ríspida: agora sou profissional.

Nessa prosa poética, a autora ironiza a sua escrita biográfica, ao dizer que é “fiel aos acontecimentos biográficos”, que consistem na presença de “mosquitos” e de “cigarras” que ensurdecem a saudade, pois a autora está no campo. O lugar onde está acaba trazendo a melancolia portuguesa, que a inspira a ser uma profissional do verso.

Já no poema “cabeceira” (os títulos dos textos da autora costumam estar com inicial minúscula), o eu lírico feminino se diz “intratável”. Não quer mais escrever e mostrar sua ternura. Ela se faz de dura e conclui que é inútil ficar atenta ou alimentar a adivinhação. O poema termina com a sugestão de que há uma pessoa íntima no quarto dela:

Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
“da sombra daquele beijo
que farei?”
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão

Poemas de Ana Cristina Cesar

É do livro Cenas de abril o poemarecuperação da adolescência”, que possui apenas uma estrofe com somente dois versos:

é sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço

Assim, o eu lírico define a adolescência, ou seja, “um navio no espaço” que carrega em si a dificuldade de ser ancorado.

Do mesmo livro é o poema “casablanca”:

Te acalma, minha loucura!
Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias...
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema...
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada feita de
binóculos de gávea
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano

Ele apresenta caráter fragmentado, com situações diversas expostas nos versos: “som de serra de afiar as facas”, “molas a gemer no quarto ao lado”, a música de Roberto Carlos, o cheiro “dos cabelos na fila em frente no cinema”, chaminés soltando fumaça, acenos (“hélices”) de adeus, “tamancos”, “sinos”, “chuveirinhos de bidê”. Tudo isso compõe o universo do eu lírico.

Frases de Ana Cristina Cesar

A seguir, vamos ler algumas frases de Ana Cristina Cesar, extraídas de seu livro A teus pés:

“As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.”

“Engulo desaforos mas com sinceridade.”

“Sem você bem que sou lago, montanha.”

“As mulheres gostam de provocação.”

“Bom mesmo é dar a alma como lavada.”

“Eu não sabia que virar pelo avesso era uma experiência mortal.”

Créditos das imagens

[1] e-galáxia (reprodução)

[2] Grupo Companhia das Letras (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Ana Cristina Cesar"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/ana-cristina-cesar.htm. Acesso em 28 de março de 2024.

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