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Controle operário na Rússia

Com o exercício do controle operário da produção entre fevereiro e outubro de 1917, os trabalhadores russos conseguiram tomar o poder nas fábricas.

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A Revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia representou a queda da monarquia e a formação do Governo Provisório, que passou a governar o país. Ao mesmo tempo, os trabalhadores russos voltaram a constituir os sovietes, como em 1905, criando com estes conselhos de participação popular uma situação que ficou conhecida como dualidade de poderes, coexistindo ao mesmo tempo o Estado e uma estrutura de poder popular, no caso russo, os sovietes. Foram criados, ainda no interior das fábricas, organizações semelhantes, os comitês de fábrica ou conselho de fábricas, que possibilitaram aos trabalhadores tomarem o poder dentro das próprias empresas.

Lênin apoiou o controle operário desenvolvido pelos trabalhadores russos como forma de sustentar sua proposta de tomada do poder.*
Lênin apoiou o controle operário desenvolvido pelos trabalhadores russos como forma de sustentar sua proposta de tomada do poder.*

No contexto da I Guerra Mundial e da crise por ela gerada, os proprietários abandonaram suas fábricas, ameaçando com o desemprego milhares de operários. A reação dos operários foi ocupar as fábricas, na Rússia europeia, para garantir a continuidade da produção. Para organizar a produção e gerir a administração foram constituídos os comitês de fábricas (ou sovietes de fábrica), formados por delegados eleitos pelos trabalhadores e com mandatos revogáveis a qualquer momento, significando que, se algum dos delegados não cumprisse com as responsabilidades assumidas, poderia ser destituído pelos demais trabalhadores. Dessa forma, os operários, através de seus comitês, exerciam o poder no interior das fábricas.

Esse exercício do poder ficou conhecido como controle operário da produção. No desenvolvimento das lutas sociais entre fevereiro e outubro de 1917, a reivindicação do controle operário da produção ganhou força, conseguindo adotar a jornada de trabalho de 8 horas em São Petersburgo e realizar um congresso nacional de comitês de fábrica em outubro, aglutinando em sua defesa, além dos trabalhadores do chão de fábrica envolvidos, forças políticas ligadas aos anarquistas e aos bolcheviques. Estes últimos, inclusive, utilizaram como lema para angariar o apoio das massas trabalhadoras a defesa do controle operário da produção como via de transformação da organização da sociedade.

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Com o controle operário somado ao lema “Paz, Terra e Pão”, os bolcheviques conseguiram apoio popular e organizaram um levante armado em São Petersburgo, derrubando o Governo Provisório chefiado por Kerenski em outubro de 1917.

Entretanto, para o principal líder bolchevique, Lênin, o controle operário deveria estar ligado à fiscalização das ações e da contabilidade das empresas pelos trabalhadores, e não à gestão dos processos de produção e administrativo, ficando estas funções a cargo dos especialistas técnicos, como engenheiros e administradores. Com essa perspectiva, o novo Estado publicou o decreto do controle operário da produção, em novembro de 1917, criando o Conselho do Controle Operário de toda a Rússia, responsável pela gestão das indústrias. Mas a participação dos trabalhadores foi limitada, sendo que os especialistas técnicos ocuparam a maior parte dos postos existentes, passando a tomar a maioria das decisões.

Logo depois, em março de 1918, foi adotada uma forma de administração das indústrias em que a direção ficava nas mãos de um único administrador, subordinando os comitês de fábrica a ele. Os administradores eram nomeados pelo Estado e não mais eleitos, retirando, dessa forma, o poder que anteriormente era exercido pelos trabalhadores no interior dessas empresas.

Para Maurice Brinton, essas medidas representaram o início da perda do poder que os trabalhadores haviam conquistado após a revolução de fevereiro de 1917, pois o controle que passaram a exercer (de fiscalização, da contabilidade etc.) era externo à parte mais importante do processo de produção, que era a gestão da fábrica. Com a nomeação de um administrador único que seria apenas fiscalizado, os trabalhadores deixaram de decidir sobre a gestão da empresa.

Com o início da Guerra Civil, logo após a assinatura do tratado de Brest-Litovski, em 1918, e a militarização da produção industrial subsequente, o controle operário foi abandonado, extinguindo, dessa forma, os comitês de fábrica.

* Crédito da imagem: Lefteris Papaulakis e Shutterstock.com


Por Tales Pinto
Graduado em História

Escritor do artigo
Escrito por: Tales dos Santos Pinto Escritor oficial Brasil Escola

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PINTO, Tales dos Santos. "Controle operário na Rússia"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/controle-operario-na-russia.htm. Acesso em 25 de abril de 2024.

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