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História do Carnaval

O Carnaval é uma festa popular marcada pelos exageros. Tem forte ligação com o catolicismo e, possivelmente, com festivais realizados na Antiguidade.

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A história do Carnaval remonta à Antiguidade. Não, o Carnaval não é uma invenção brasileira, é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada aqui. Apesar do forte secularismo presente no Carnaval, a festa é tradicionalmente ligada ao catolicismo, uma vez que sua celebração antecede a Quaresma.

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A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar os desejos dos fiéis. A festa foi trazida ao Brasil por influência dos portugueses, chegando aqui no século XVII.

Leia mais: Frevo — tradicional na cultura brasileira, é uma dança folclórica que tem destaque no Carnaval

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a história do Carnaval

  • O Carnaval é uma celebração entendida como cristã, mas é conhecida como uma festa marcada pelos exageros.

  • Historicamente, o Carnaval é visto como um momento de hedonismo e liberação dos prazeres.

  • Algumas celebrações da Antiguidade tinham elementos que remontam ao Carnaval.

  • A celebração foi reprimida pela Igreja Católica, desejosa em conter os exageros das pessoas.

  • O Carnaval chegou ao Brasil no século XVII, tornando-se uma festividade extremamente popular em nossa cultura.

Videoaula sobre Carnaval

Qual a origem do Carnaval?

Alguns estudiosos entendem o Carnaval como uma festa cristã, pois sua origem, na forma como entendemos a festa atualmente, tem relação direta com as restrições que marcam o período da Quaresma. Apesar disso, é possível apontar festividades que eram realizadas na Antiguidade por diversos povos e que demonstram ligações históricas com o Carnaval.

Na Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como Carnaval. As Sacéias eram uma celebração em que um prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.

Outro rito era realizado pelo rei no período próximo ao equinócio da primavera, um momento de comemoração do ano-novo na Mesopotâmia. O ritual ocorria no templo de Marduk (um dos primeiros deuses mesopotâmicos), onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono.

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O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao Carnaval era o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao seu deus. Possivelmente a subversão de papéis sociais no Carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e outras práticas semelhantes, é associável a essa tradição mesopotâmica.

A associação entre o Carnaval e as orgias pode ainda relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Eles eram dedicados ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), e marcados pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.

Pintura “Carnaval em Roma” (1650-1651), de Johannes Lingelbach, em texto sobre história do Carnaval.
Pintura Carnaval em Roma (1650-1651), de Johannes Lingelbach.

Havia ainda, em Roma, a Saturnália e a Lupercália. A primeira ocorria no solstício de inverno, em dezembro, e a segunda, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas duravam dias, com comidas, bebidas e danças. Os papéis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores, e estes se colocando no papel de escravizados.

Muitos historiadores apontam que o período em que o Carnaval comumente é celebrado se aproxima do período em que se encerra o inverno e se inicia a primavera no Hemisfério Norte. Com isso, diversos povos realizavam festividades como forma de celebrar a “expulsão do inverno” e o retorno de dias mais ensolarados e férteis. Os exageros no consumo de alimentos e nos prazeres carnais se tornaram a marca dessas celebrações.

Essas festas eram celebrações pagãs e eram extremamente populares. Com o fortalecimento de seu poder, a Igreja não via com bons olhos essas celebrações, nas quais as pessoas entregavam-se aos prazeres mundanos. Nessa concepção do cristianismo, havia a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter-se os papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o demônio.

A Igreja Católica, então, procurou dar um novo sentido a essas celebrações, cristianizando-as. Durante a Alta Idade Média, foi criada a Quaresma — período de 40 dias antes da Páscoa caracterizado pelo jejum. Tempos depois, as festividades realizadas pelo povo foram concentradas nesse período e nomeadas carnis levale.

A Igreja pretendia, dessa forma, manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do período da severidade religiosa. Nesse momento, o Carnaval estendia-se durante várias semanas, entre o Natal e a Páscoa. Apesar dessa janela para que as pessoas extravasassem seus impulsos, a Igreja ainda condenava as celebrações intensas que marcavam o período.

As tentativas de acabar com as celebrações carnavalescas foram muitas, mas o período anterior à Quaresma se consolidou na cultura popular como um momento de liberdade, de hedonismo e de inversão de papéis socialmente estabelecidos. A Igreja buscou reforçar a cristianização dessa celebração, incluindo o Carnaval no calendário litúrgico cristão, mas sem sucesso.

Leia mais: Hedonismo — doutrina ética e filosófica que defende a busca pelo prazer como finalidade última

Qual o motivo da comemoração do Carnaval?

Pintura “A luta entre o Carnaval e a Quaresma” (1559), de Pieter Bruegel, em texto sobre a história do Carnaval.
Pintura A luta entre o Carnaval e a Quaresma (1559), de Pieter Bruegel.

O Carnaval, como citado, se consolidou na cultura popular como um período de inversão dos papéis sociais estabelecidos e um momento de quebra de normas. Sendo assim, a festa se estabeleceu como um momento de festividades e de zombaria, com todo o tipo de folguedos, que zombavam de pessoas diversas e também de autoridades.

Do ponto de vista religioso, a festa era o momento de liberação dos prazeres antes das pessoas iniciarem a Quaresma, marcada por jejuns, outras restrições e penitências. Sendo assim, a festa era vista por muitos como um momento de liberação e, por isso, sempre foi marcada por celebrações que se arrastavam por horas ou dias, por zombarias, pelo consumo de alimentos e bebidas alcoólicas de maneira exagerada e pela liberação sexual.

Os exageros seriam, então, uma forma de se preparar para as restrições e a severidade da Quaresma. A zombaria do período abria também margem para demonstração da insatisfação social das pessoas, com críticas sendo feitas. Por fim, pode ser reforçada a ideia do Carnaval como uma continuidade de festas que celebravam a chegada da primavera.

Significado do Carnaval

O Carnaval é uma celebração tradicional e realizada em diferentes partes do planeta. A festa, evidentemente, é celebrada de diversas maneiras nos diferentes locais em que ocorre. De toda forma, existe um sentido religioso da festa, tida momento de passagem — nas culturas pagãs, do inverno para a primavera, e na cultura europeia cristã, do período de pecado e libertinagem para o período de santidade e penitência.

Na cultura popular moderna, o Carnaval é uma festa que valoriza a liberdade e a alegria, permitindo que as pessoas tenham dias de celebração com festas, música, danças etc. A alegria do Carnaval em terras brasileiras também reforça a diversidade de nosso país, uma vez que a festa acontece de diferentes maneiras e é embalada por diferentes ritmos.

Carnaval no Brasil

Escola de samba desfilando, parte da história do Carnaval.
O Carnaval chegou ao Brasil durante a colonização e transformou-se na maior festa popular do país.[1]

A história do Carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma prática carnavalesca comum em Portugal durante a Idade Média e Idade Moderna e que foi introduzida no Brasil em meados do século XVII. Essa brincadeira era bastante popular no Brasil e era praticada por pessoas de diversas classes sociais.

O entrudo, todavia, era mais popular entre as camadas mais baixas da sociedade e realizado, inclusive, pelos escravizados. Era marcado por uma série de brincadeiras, sendo a principal delas a de molhar as pessoas que passavam pelas ruas nos dias anteriores à Quaresma. O entrudo, no entanto, foi bastante criticado e reprimido pelas elites do Brasil. Se quiser saber mais sobre a prática, leia nosso texto.

Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos, e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais foram incorporados à maior manifestação cultural do Brasil. Na década de 1920, surgiram as escolas de samba e os desfiles tornaram-se parte tradicional da celebração do Carnaval no Brasil. 

Curiosidades sobre a história do Carnaval

Mardi Gras, parte da história do Carnaval.
Em New Orleans, nos Estados Unidos, o Carnaval é conhecido como Mardi Gras.[2]
  • A primeira escola de samba do Brasil foi a Deixa Falar, criada em 1928.

  • Na Idade Média, era comum que homens se vestissem de mulher e saíssem às ruas para festejar.

  • O Carnaval da Europa, durante a Idade Moderna, já era marcado pelo desfile de carros alegóricos.

  • Na Europa era comum a realização do charivari durante um Carnaval. O charivari era um ritual de zombaria e justiça social, marcado pela difamação de uma pessoa em público.

  • Em Nova Orleans, o Carnaval é conhecido como Mardi Gras.

  • O Galo da Madrugada é o maior bloco Carnavalesco do mundo, sendo realizado na cidade de Recife.

Créditos da imagem

[1] Celso Pupo | Shutterstock

[2] Flickr user radiate2357 | Commons

Fontes

BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. São Paulo: Editora UNESP, 2003.

SOIHET, Rachel. Reflexões sobre o Carnaval na historiografia — algumas abordagens. Disponível em: http://gladiator.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/artg7-8.pdf.

LOUREIRO, Carolina; VALENTE, Isabela; VIVIANI, Fernanda. A festa mais popular do Brasil. Disponível em: http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/ecletica33_festa_popular.pdf.

CANÇÃO NOVA. Existe relação entre o Carnaval e o Cristianismo? Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/existe-relacao-entre-o-Carnaval-e-o-cristianismo/.

AQUINO, Felipe. Como surgiu o Carnaval? Disponível em: https://cleofas.com.br/como-surgiu-o-Carnaval/.

ALETEIA. Qual é a origem da Quaresma? Disponível em: https://pt.aleteia.org/2014/03/05/qual-e-a-origem-da-quaresma/.

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.
Deseja fazer uma citação?
SILVA, Daniel Neves. "História do Carnaval"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval.htm. Acesso em 07 de setembro de 2025.
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Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

A festa do carnaval, na Antiguidade Ocidental, estava relacionada com rituais pagãos que envolviam embriaguez e promiscuidade sexual. Dois desses rituais eram realizados entre o fim e o início de cada ano, isto é, um em dezembro e o outro em fevereiro. Eram eles:

a) as Saceias e as Olímpicas

b) as Apolíneas e as Siríacas

c) o Pão e Circo e o Lupanar

d) as Saturnálias e Lupercálias

e) o Pão e Circo e as Apolíneas

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Exercício 2

A palavra ''carnaval'' vem do latim carnis levale e significa “retirar a carne” ou se livrar da carne. Essa designação começou a ser propagada durante a ascensão da civilização cristã na Idade Média. Levando isso em consideração, qual é o período do calendário litúrgico católico que é precedido pelo dia do carnaval?

a) o Dia de Todos os Santos

b) o Natal

c) a Quaresma

d) o Dia de Santos Reis

e) o Dia de Santa Luzia

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Exercício 3

(PUC-RS) Zé Carioca, personagem de histórias em quadrinhos e filmes de Hollywood, foi criado por Walt Disney a partir de uma interpretação da figura popular do malandro carioca ligado ao samba e ao carnaval. A criação desse personagem caricatural para representar a identidade nacional brasileira está relacionada com qual dos contextos abaixo?

a) À Primeira Guerra e ao esforço de penetração comercial dos EUA no Brasil.

b) Ao esforço de aproximação e alinhamento do Brasil aos EUA, no contexto da II Guerra Mundial.

c) À internacionalização da economia brasileira da Era JK.

d) À expansão da cultura pop de influência norte-americana na Guerra Fria.

e) Ao imperialismo cultural dos EUA no contexto da ditadura militar.

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Exercício 4

(PUC-RS) "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, foi um samba-exaltação composto num contexto caracterizado pela censura às letras de música que falassem da malandragem e pela utilização política do samba através do rádio - inclusive com a composição de marchinhas de carnaval - no sentido de forjar o consenso político ao redor de um projeto de modernização populista e autoritário, que caracterizou o governo de:

a) Juscelino Kubitschek

b) Eurico Gaspar Dutra

c) Castelo Branco

d) Jânio Quadros

e) Getúlio Vargas

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