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Urbanização brasileira

A urbanização brasileira aconteceu de maneira rápida e desordenada, ocasionando alguns problemas, como a macrocefalia urbana e o agravamento das desigualdades socioespaciais.

Vista superior da cidade de São Paulo como representação da urbanização brasileira.
A urbanização brasileira se intensificou a partir da segunda metade do século XX e é marcada pelo crescimento rápido e desordenado das cidades.
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A urbanização brasileira é o processo de crescimento da população urbana com relação à população rural presente no país. Embora as cidades tenham surgido muito cedo na história do Brasil, foi somente com a industrialização e com a modernização do campo, ambas na segunda metade do século XX, que houve uma intensificação do êxodo rural e crescimento dos centros urbanos. A população urbana se tornou maioria no Brasil a partir da década de 1970 e hoje representa uma parcela de quase 85% do total de habitantes do país.

O processo de urbanização que aconteceu no Brasil se assemelha àquele de outros países emergentes, dando-se de forma acelerada e desordenada, sem planejamento. Ao mesmo tempo que importantes cidades e grandes metrópoles se desenvolveram, a urbanização brasileira, da forma como foi realizada, resultou também na macrocefalia urbana e no agravamento das desigualdades socioeconômicas e espaciais nas cidades.

Leia também: Quais são as cinco maiores metrópoles brasileiras?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre urbanização brasileira

  • As primeiras cidades brasileiras surgiram no período colonial, mas a urbanização se intensificou somente a partir da segunda metade do século XX.

  • A industrialização e o êxodo rural decorrente da modernização do campo são os principais causadores do avanço da urbanização brasileira.

  • Foi na década de 1970 que o Brasil se tornou um país efetivamente urbanizado, já que foi nesse período que mais da metade de sua população passou a viver nas cidades.

  • A urbanização brasileira aconteceu rapidamente e sem planejamento ou com planejamento ineficaz, sendo caracterizada como desordenada.

  • Resultou no aumento do número de cidades, na metropolização, na formação de regiões metropolitanas e na transformação do ordenamento territorial do país.

  • Tem como consequência a macrocefalia urbana, o aprofundamento das desigualdades socioespaciais e econômicas, o agravamento de problemas ambientais urbanos e a distribuição desigual da população urbana pelo território nacional.

  • Atualmente, observa-se uma tendência de crescimento das cidades médias.

Causas da urbanização brasileira

A urbanização do Brasil é um processo que está atrelado às transformações econômicas e aos ciclos econômicos que se sucederam no território brasileiro ao longo de sua história, especialmente a partir da segunda metade do século XX.

A abrangência espacial da colonização, inicialmente litorânea, fez com que as primeiras cidades brasileiras se localizassem ao longo da costa. As vilas e cidades que, mais tarde, surgiram no interior do país estavam subordinadas à atividade agropecuária que era desenvolvida no campo e ao extrativismo mineral (ouro e minério de ferro) e vegetal (borracha).

A reorientação da economia brasileira entre o final do século XIX e o século XX promoveu alterações de grande impacto no ordenamento espacial do país, ampliando o dinamismo dos centros urbanos da região Sudeste.

Com o advento da indústria, que levou ao processo de industrialização do território brasileiro, houve um crescimento expressivo das áreas urbanizadas e do total da população brasileira que vivia em cidades.

Ademais, a modernização do campo e a mecanização do trabalho rural fez com que muitas pessoas migrassem em definitivo para as cidades em busca de novas oportunidades, fenômeno conhecido como êxodo rural.

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Principais características da urbanização brasileira

As pequenas vilas e cidades se formaram muito cedo na história do Brasil. No entanto, a urbanização propriamente dita do território nacional aconteceu a partir da segunda metade do século XX, quando a parcela da população urbana ultrapassou a população rural. O processo de urbanização brasileiro tem algumas características em comum com outros países da América Latina e nações emergentes de um modo geral, ao mesmo tempo que apresenta particularidades importantes. Veja, a seguir, as principais características da urbanização brasileira:

  • Urbanização rápida e acelerada: a urbanização brasileira foi intensificada a partir da década de 1950, quando se observou um maior êxodo rural (migração definitiva do campo para a cidade) e a maior presença da indústria nas cidades.

  • Ausência de planejamento: em função da rapidez com que o processo transcorreu a partir de meados do século XX, não houve planejamento urbano estratégico, por parte da gestão pública, para o incremento de população nas cidades. Algumas das principais cidades e regiões metropolitanas do Brasil cresceram, portanto, de forma desordenada.

  • Concentração espacial e polarização: a urbanização brasileira é marcada pelo desenvolvimento de grandes centros urbanos em algumas regiões em detrimento de outras, o que causa uma maior concentração populacional e também de serviços nessas áreas. Nesse contexto é que surgem as metrópoles e as regiões metropolitanas.

Importante: As características acima elencadas representam o processo geral de urbanização do Brasil. Nas últimas décadas, entretanto, tem-se observado o crescimento das cidades médias como consequência da desconcentração industrial, da maior flexibilidade do trabalho e dos serviços e do menor custo de vida comparativamente aos grandes centros urbanos e regiões metropolitanas.

Mudanças causadas pela urbanização brasileira

Uma das maiores mudanças causadas pela urbanização brasileira foi a inversão da proporção entre a população urbana e a população rural. No ano de 1970, o número de pessoas vivendo nas cidades ultrapassou o número de moradores do campo em escala nacional, e a população brasileira passou a ser majoritariamente urbana. Em 1960, a taxa de urbanização do país era de 45,52% e, uma década mais tarde, esse índice subiu para 56,8%. Segundo o IBGE, a urbanização brasileira hoje é da ordem de 84,72%.

A urbanização causou o aumento do número de cidades no território brasileiro. Hoje, o Brasil conta com 5.568 municípios, além do Distrito Federal (capital do país) e do distrito de Fernando de Noronha.

O crescimento das cidades e a formação de novos centros urbanos levaram à mudança da dinâmica espacial e da hierarquia urbana brasileira, fazendo surgir novas cidades médias, metrópoles regionais e regiões metropolitanas. Em 2020, as cidades de Campinas (no estado de São Paulo), Florianópolis (capital de Santa Catarina) e Vitória (capital do Espírito Santo) foram classificadas como metrópoles brasileiras, passando a fazer parte da lista que conta com 15 metrópoles no total.

Consequências da urbanização brasileira

Favela no Rio de Janeiro, resultante do processo de favelização, como exemplo das consequências da urbanização brasileira.
A macrocefalia urbana e a favelização são consequências da urbanização brasileira.

A urbanização brasileira se intensificou a partir da década de 1950 em função de fatores como o êxodo rural, motivado pela modernização do campo e pela maior oferta de trabalho nas cidades, e a industrialização. Esse processo, entretanto, ocorreu sem planejamento, o que acarretou consequências para a população, para o tecido urbano e para o ordenamento territorial. Dentre essas consequências, podemos destacar as seguintes:

  • Inchaço urbano ou macrocefalia urbana, derivada da concentração desigual de recursos e serviços em uma cidade que cresce com planejamento ineficaz ou sem planejamento, acarretando problemas de mobilidade urbana, ambientais e socioeconômicos.

  • Como resultado da macrocefalia urbana, além da ampliação das desigualdades sociais, há o agravamento de problemas ambientais no meio urbano, como poluição dos solos e da água, enchentes, deslizamentos de terra, entre outros.

  • Distribuição desigual da população sobre o espaço urbano, com aumento da segregação urbana, especialmente nas regiões metropolitanas e grandes cidades.

  • Crescimento da periferia urbana e favelização. Essas áreas concentram a maior parcela da população mais pobre das cidades brasileiras.

  • Aumento do número de pessoas atuando no mercado de trabalho informal e no setor terciário devido à falta de oportunidades no mercado de trabalho e da baixa qualificação profissional.

  • Distribuição desigual da população urbana pelo território brasileiro. Segundo o IBGE, a região mais urbanizada do Brasil é o Sudeste, onde 93% dos habitantes vivem nas cidades. O Nordeste, embora concentre o maior número relativo de municípios, possui 73% de sua população nas cidades, sendo a região menos urbanizada do país.

Confira nosso podcast: Favelização e segregação — alguns dos efeitos da urbanização brasileira

História do processo de urbanização brasileira

A criação de cidades no Brasil data do início da colonização pelos portugueses. Os primeiros núcleos urbanos brasileiros se localizavam no litoral do país, uma característica que é própria da ocupação do território nacional feita pelos colonizadores. As principais atividades econômicas desenvolvidas no país dependiam da terra e dos recursos naturais, o que fez com que o surgimento de novas cidades fosse lento e sempre atrelado à economia essencialmente rural do Brasil Colônia.

Por muitos séculos, o território brasileiro foi comparado a um arquipélago. Isso ocorre porque havia uma série de núcleos populacionais espalhados em regiões distintas, mas sem comunicação uns com os outros. Muitos desses núcleos começaram a surgir entre os séculos XVII e XVIII, com a interiorização da ocupação do território brasileiro, a atividade dos bandeirantes e o surgimento do ciclo econômico do ouro. Cidades como Manaus (no Amazonas), Ouro Preto (em Minas Gerais), Goiás (situada no estado de mesmo nome), que à época se chamava Vila Boa, e Campinas (em São Paulo) foram fundadas nesse período.|1|

Durante os ciclos da borracha, na região Norte do Brasil, e do café, no Sudeste, inúmeras cidades e vilas foram fundadas. A maioria delas se apoiava na produção extrativa e na agricultura, razão pela qual o declínio dessas atividades afetou duramente muitos municípios e vilas no interior do país.

No século XIX, a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro promoveu mudanças importantes no papel das cidades, ao mesmo tempo que novas áreas urbanas foram sendo fundadas no interior do país, em todas as regiões.

A construção das ferrovias, processo atrelado ao capital da economia cafeeira, a ampliação das redes de infraestrutura e a formação de um centro comercial e econômico no estado de São Paulo durante o século XIX desencadeou a fundação de inúmeras cidades, além do adensamento populacional das áreas urbanas já existentes.

A partir do século XX, a industrialização tardia que aconteceu no Brasil alterou a lógica das cidades, que se tornaram independentes da atividade no campo, e transformou o espaço urbano brasileiro. Esse processo acelerou a urbanização a partir da década de 1940, condicionando a formação de grandes centros urbanos, metrópoles e regiões metropolitanas. A interiorização da capital brasileira, transferida para Brasília em 1961, e a expansão da fronteira agropecuária a partir dos anos 1970 também contribuíram para o avanço da urbanização brasileira.

Exercícios resolvidos sobre urbanização brasileira

Questão 1

(Unesp) Nos dias atuais, existe uma verdadeira marcha da urbanização. Se em 1940, apenas 30% da população total do país vivia em cidades, em 2007 essa porcentagem avança para 83% (Pnad/IBGE 2007 — ano-base 2006), o que significa dizer que oito em cada dez brasileiros vivem em núcleos urbanos. Entretanto, essa população vem apresentando novas tendências. Em seus fluxos migratórios, ocorre um “reforço da metropolização junto a uma espécie de desmetropolização”. (Santos, 1993)

Analise as afirmações que seguem.

I. A população urbana, em grande parte, concentra-se no Sudeste do país, em especial nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro.

II. Concomitantemente à permanência do peso acentuado das metrópoles, ocorre a desconcentração ou repartição de atividades entre as metrópoles e outros núcleos urbanos.

III. Os novos fluxos migratórios representam na atualidade uma nova onda do êxodo rural, o qual interfere diretamente na proliferação de metrópoles no país.

IV. A emergência e a consolidação das cidades médias brasileiras acabam atestando a desconcentração das atividades produtivas, o que evidencia uma nova divisão territorial do trabalho no país.

V. A desmetropolização aponta o fato de que as metrópoles perdem importância na economia local e global.

Assinale a alternativa que reúne apenas os itens relacionados à dinâmica da urbanização brasileira na atualidade.

A) I, II e III.

B) I, III e V.

C) I, II e IV.

D) II, IV e V.

E) III, IV e V.

Resolução:

Alternativa C.

A afirmação feita em III é incorreta, porque os fluxos migratórios atuais não caracterizam uma nova onda de êxodo rural, mas sim de migração de grandes centros urbanos para as cidades médias.

Na afirmação V, não é correto dizer que as metrópoles perderam a sua importância. Pelo contrário, as metrópoles apenas reafirmaram o seu papel enquanto centros econômicos, culturais, políticos e tecnológicos no atual período técnico.

Questão 2

(UFU)

Cartum de Arionauro em uma questão da UFU sobre a urbanização brasileira.

Disponível em: <http://www.arionaurocartuns.com.br/2016/06/charge-desigualdade-social.htmi. Acesso em: 15 maio 2021

A respeito dos problemas sociais urbanos no Brasil, considere as afirmativas.

I. Dentre os problemas sociais urbanos encontrados em grandes cidades, podem-se apontar deficit habitacional, segregação socioespacial e deficiências relacionadas à mobilidade.

II. A infraestrutura das áreas centrais e dos bairros nobres eleva o “preço do solo”, o que contribui para “expulsão” da população de baixa renda para a periferia das grandes cidades.

III. As áreas centrais das grandes cidades costumam ser pouco aproveitadas devido ao processo de horizontalização, restando somente espaços longínquos para a população de baixa renda.

IV. A especulação imobiliária contribui pouco para a segregação socioespacial nas grandes cidades, visto que o “preço do solo” é baixo nos espaços ocupados pela população de baixa renda.

V. O deficit habitacional refere-se exclusivamente à ausência de moradia nos centros das grandes cidades, evidenciado pelas poucas residências nas porções centrais.

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas.

A) Apenas I e II.

B) Apenas II, IV e V.

C) Apenas III e V.

D) Apenas I, III e IV.

Resolução:

Alternativa A.

Somente está correto o que se afirma em I e II.

A alternativa III está incorreta porque as áreas centrais são as mais aproveitadas nos grandes centros urbanos, e processos como o de gentrificação e aumento do custo de vida nessas áreas é o que “expulsa” a população mais pobre.

A alternativa IV está incorreta porque a especulação imobiliária é uma das principais responsáveis pela segregação do espaço urbano.

A alternativa V está incorreta porque o deficit habitacional afeta todo o espaço urbano, e não se restringe somente à região central das cidades.

Notas

|1| SCARLATO, Francisco Capuano. População e urbanização brasileira. In: ROSS, Jurandyr L. Sanches. (Org.) Geografia do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2019. 6 ed. 3 reimpr.549p.

 

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia

Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUITARRARA, Paloma. "Urbanização brasileira"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao-no-brasil.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

De estudante para estudante


Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

Qual a sua concepção de cidade?

Exercício 2

O intenso processo de urbanização ocorrido no Brasil, principalmente a partir da década de 1950, gerou uma série de problemas, pois a urbanização brasileira não teve o devido planejamento. Quais os principais problemas detectados nas cidades do Brasil?

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