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Imigração no Brasil

A imigração é um processo que marcou a história de formação do Brasil. O maior fluxo aconteceu entre os séculos XIX e XX, com a vinda principalmente de imigrantes europeus.

Multidão de imigrantes europeus em navio.
A imigração é característica do processo de formação socioterritorial do Brasil.
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A imigração no Brasil é um fenômeno caracterizado pela chegada de estrangeiros ao território nacional ao longo de toda a sua história de formação. Tendo início com os portugueses no século XVI, as correntes de imigração espontânea que chegaram ao Brasil se intensificaram a partir de meados do século XIX, entrando em declínio a partir da década de 1930 devido à imposição de medidas de restrição a esse processo. Durante esse intervalo de tempo, os grupos mais numerosos eram formados por imigrantes italianos, portugueses, alemães, japoneses e árabes.

Os fluxos mais intensos recomeçaram a partir da segunda metade do século XX, com mudanças no perfil dos imigrantes, vindos agora principalmente da América Latina, Ásia e África. Mais recentemente, o Brasil tem sido um importante destino para refugiados de diversas localidades, como Venezuela, Síria, Haiti e Afeganistão, que deixaram seus países em razão de questões como desastres naturais, conflitos e crises políticas e humanitárias.

Leia também: Afinal, o que é imigração?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a imigração no Brasil

  • A imigração teve grande importância na composição socioterritorial do Brasil.

  • As causas para esse fenômeno são diversas: ocupação e colonização; questões econômicas, que incluem a imigração subvencionada; conflitos internacionais; guerras; e fuga de crises econômicas, sanitárias e humanitárias ou de perseguições (religiosas, políticas e étnicas).

  • É importante diferenciar a imigração espontânea da imigração forçada. O segundo caso diz respeito ao tráfico de africanos escravizados para o país.

  • A maior entrada de imigrantes espontâneos no Brasil aconteceu entre meados do século XIX e a década de 1930.

  • Portugueses, italianos, japoneses, alemães e árabes (sírios, turcos, egípcios, palestinos) foram os principais grupos de imigrantes que entraram no país nesse período.

  • A partir do final do século XX, o Brasil começou a receber muitos imigrantes latino-americanos, africanos e asiáticos, especialmente chineses e filipinos.

  • Em um período mais recente, que teve início em 2011, o Brasil recebeu muitos imigrantes haitianos, venezuelanos e sírios. Muitos deles estão registrados como refugiados.

Causas da imigração no Brasil

Diversas foram as causas que motivaram os movimentos imigratórios no Brasil ao longo de sua história. A principal delas foi a econômica, associada inicialmente aos diferentes ciclos produtivos que se sucederam durante o Brasil Colônia e posteriormente no Brasil Império, com a imigração forçada de africanos para o trabalho escravizado nas lavouras e nos engenhos de açúcar. Mais tarde, também com o propósito de trabalho, dessa vez assalariado devido à proibição do tráfico de escravizados, o país recebeu grupos de imigrantes europeus.

Os conflitos internacionais e as guerras, como a Segunda Guerra Mundial e, em um período mais recente, as guerras na Síria e na Ucrânia, estão também entre os motivos pelos quais pessoas de diferentes nacionalidades buscaram e buscam uma nova vida no Brasil.

Crises humanitárias, econômicas e políticas com impactos diretos para a sociedade, perseguições por motivos político-ideológicos, étnicos ou religiosos e mesmo desastres naturais, como o terremoto que devastou o Haiti em 2010, condicionaram a vinda de imigrantes ao país. Em muitos desses casos, os imigrantes são identificados como refugiados pelo fato de não terem tido escolha a não ser deixar o seu local de origem como forma de escapar de situações ameaçadoras que colocam em risco sua integridade física e de seus familiares.

É importante notar que crises econômicas, como a crise de 2008, e sanitárias, como a pandemia da covid-19, ou até mesmo outros conflitos, ocasionam um movimento denominado imigração de retorno. Esse tipo de imigração é caracterizado pela volta ao país de brasileiros que haviam se mudado para o exterior por motivos diversos.

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Características da imigração no Brasil

A imigração foi de grande importância para a formação socioterritorial do Brasil. Uma das principais características desse fenômeno no país é o fato de ter transcorrido por meio de ondas ou fases suscitadas por motivos e agentes diversos, algumas vezes mediante programas de incentivo à imigração.

Desde o início do século XIX e durante todo o Brasil Império (1822-1899), o país foi um dos principais destinos de imigrantes no continente americano, tendo recebido mais de 3 milhões de pessoas nesse intervalo de tempo. Foi também nesse período que a imigração brasileira se mostrou bastante regionalizada, isto é, com grupos de imigrantes de determinada nacionalidade formando núcleos populacionais em uma mesma região, o que se reflete hoje na composição da população dessas mesmas áreas.

Mais recentemente, a imigração brasileira é caracterizada pela maior presença de pessoas vindas dos territórios vizinhos da América do Sul, além do crescente número de refugiados que se instalaram no país vindos de regiões como o Oriente Médio e o Leste Europeu.

Leia também: Causas e consequências da crise dos refugiados

História da imigração no Brasil

A história da imigração no Brasil começou, ainda no século XV, com a chegada dos colonizadores portugueses na costa nordeste do país. Pouco tempo depois da instalação dos europeus, teve início o processo de imigração forçada dos africanos, oriundos de diversos países do continente, e que foram retirados de suas terras para trabalharem em regime de escravidão na nova colônia portuguesa.

De acordo com o IBGE, estima-se que 4 milhões de pessoas foram trazidas à força dos países da África para o Brasil entre os séculos XVI e meados do século XIX, quando foi concebida a Lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico de escravizados para o território nacional. Apesar de ilegal, esse movimento continuou acontecendo de outras formas, e a escravidão foi abolida apenas três décadas mais tarde, em 1888.

Ao mesmo tempo em que o tráfico de escravizados era proibido, uma nova corrente migratória chegava ao Brasil, o que aconteceu como resultado de programas de incentivo à vinda de novos imigrantes, a chamada imigração subvencionada, com a atuação de agentes econômicos, em um primeiro momento, e a posterior participação do governo brasileiro. Tais programas tinham à sua frente os donos de grandes fazendas produtoras de café, principalmente, e previam o pagamento de passagens e a garantia de uma moradia e de trabalho nas lavouras.

Imigrantes europeus no pátio da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo no final do século XIX.
Imigrantes europeus no pátio da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo no final do século XIX.

Entre os grupos mais numerosos de imigrantes que aportaram no Brasil durante esse período, que se estendeu até a década de 1930, estavam os italianos e os japoneses, que formaram núcleos populacionais nas regiões Sudeste e Sul do país. É importante mencionar ainda, para o mesmo período, a chegada de pessoas de outras nacionalidades, como espanhóis, alemães, portugueses, sírios, libaneses e turcos.

O declínio da imigração no Brasil aconteceu a partir de 1930 via medidas restritivas à atuação da mão de obra estrangeira no país, inseridas num período da crise econômica internacional deflagrada em 1929 e da crise interna do café. A justificativa era, assim, evitar o aumento do desemprego no país. A primeira dessas leis foi a Lei dos 2/3, sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1930, e que previa a asseguração de 2/3 dos postos de trabalhos nas empresas para brasileiros. Já em 1934, foi aprovada a Lei de Cotas, que determinava limites para a entrada de novos estrangeiros no Brasil.

Novos grupos de imigrantes europeus retomaram a curva crescente das entradas de estrangeiros no Brasil a partir da Segunda Guerra Mundial, o que incluiu os judeus de diversos países europeus, que fugiam das ameaças e perseguições dos nazistas no continente.

A partir da segunda metade do século XX, a imigração no Brasil foi caracterizada pela chegada de africanos de países lusófonos, em sua maioria, e também de latino-americanos oriundos de nações vizinhas da América do Sul, como Paraguai, Bolívia, Argentina e Peru. Nas últimas duas décadas, conforme veremos a seguir, muitos imigrantes adentraram no país na condição de refugiados, como foi o caso dos haitianos, dos sírios e, mais recentemente, dos afegãos.

Imigrantes no Brasil

Conheça os principais grupos de imigrantes que entraram no Brasil entre os séculos XVI e XX. É importante ressaltar que estamos trabalhando aqui com aqueles grupos que realizaram a migração de maneira espontânea, ainda que subvencionada.

  • Imigrantes portugueses

Os imigrantes portugueses foram os primeiros a chegarem ao Brasil, por assim dizer. No entanto, as correntes migratórias oriundas de Portugal não se restringiram apenas ao período colonial, que, aliás, registrou baixo número de chegadas comparativamente. De acordo com o IBGE, nos primeiros anos da colonização, uma média de 500 imigrantes portugueses adentravam anualmente no Brasil.

Foi durante 1850 e 1930 que houve o maior fluxo de imigrantes portugueses para o Brasil, com grande retomada desse padrão somente na década de 1970 e novo declínio a partir de 1981, quando começou o movimento de migração de retorno. Os imigrantes portugueses se concentravam principalmente no Sudeste e Centro-Oeste, com presença também no Norte, mais precisamente no estado do Pará.

  • Imigrantes italianos

As grandes correntes migratórias italianas começaram a chegar ao Brasil a partir de meados do século XIX, vindas mediante incentivos governamentais e dos agentes econômicos. Entre 1870 e 1920, de acordo com o IBGE, os italianos representavam 42% de todos os imigrantes que chegavam ao Brasil. Grande parte dos imigrantes italianos se instalou nas fazendas de café do estado de São Paulo, além de núcleos de colonização no Espírito Santo e nos estados da região Sul do Brasil.

  • Imigrantes japoneses

Monumento em homenagem aos imigrantes japoneses instalado em São Vicente, no litoral de São Paulo.
Monumento em homenagem aos imigrantes japoneses instalado em São Vicente, no litoral de São Paulo.

Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil no ano de 1908, adentrando no país pelo Porto de Santos, no litoral de São Paulo. A maior parcela dos imigrantes japoneses chegou aqui entre 1930 e a Segunda Guerra Mundial, instalando-se principalmente nos estados de São Paulo e do Paraná, sob a imposição das companhias de imigração. Segundo dados do IBGE, mais de 270 mil imigrantes japoneses viviam no Brasil entre 1940 e 1950. Para saber mais sobre a imigração japonesa, confira nosso podcast: Entendendo a imigração japonesa no Brasil.

  • Imigrantes alemães

Outro grupo bastante populoso de imigrantes que chegou ao Brasil foi o de alemães, que começaram a se instalar na região Sul, no estado do Rio Grande do Sul, em 1824. No período que se estendeu desde então até o final da década de 1960, o país recebeu aproximadamente 235 mil imigrantes alemães, a maioria dos quais estabelecida nos três estados sulistas e também no Espírito Santo.

  • Imigrantes árabes

A corrente de imigrantes de países árabes partiu de diversos territórios, como Síria, Turquia, Egito e Palestina. Segundo o IBGE, muitos dos mais de 150 mil imigrantes árabes que chegaram ao Brasil na primeira metade do século XX deixaram seus países por motivos econômicos e religiosos. A maioria desses imigrantes teve como destino os estados do Sudeste, em especial São Paulo e Rio de Janeiro.

Leia também: Emigrar, imigrar e migrar — qual é a diferença?

Imigração no Brasil atualmente

A imigração atual no Brasil, considerando o período que vai da década de 1990 até o presente, é caracterizada pelo grande fluxo de entrada de latino-americanos (argentinos, paraguaios, bolivianos e colombianos), africanos (angolanos, nigerianos, senegaleses, ganeses, entre outras nacionalidades), chineses, haitianos e de refugiados oriundos de inúmeros países e regiões do mundo, como Síria, Afeganistão, Venezuela, Angola e Haiti.

Os dados mais recentes do Observatório das Migrações Internacionais indicam que, somente na última década, entre 2011 e 2021, aproximadamente 1,4 milhão de imigrantes foram registrados no Brasil. O documento mostra ainda que são os imigrantes venezuelanos o grupo com maior número de registros, superando o dos haitianos, tendo ampla presença também no mercado de trabalho formal.

Fila de haitianos que imigraram para o Brasil.
Os haitianos estão entre os principais grupos que entraram no Brasil no período recente de imigração.[1]

Destaca-se ainda a presença de pessoas oriundas dos seguintes países:

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o Estado brasileiro reconheceu também cerca de 60 mil refugiados entre 1985 e o presente, sendo os dados mais recentes de junho de 2022. Hoje já existem quase 30 mil pessoas que aguardam para terem a sua situação reconhecida.

Foi a partir da década de 2010 que o país começou a receber um maior número de refugiados, em especial de nacionalidade síria, em razão da guerra civil que se desdobra no país até o presente, venezuelana e haitiana. A partir de 2021, a volta ao poder do Talibã no Afeganistão fez com que muitas pessoas saíssem do país em busca de refúgio em outros territórios, sendo um deles o Brasil.

Fontes

ACNUR BRASIL. No Dia Mundial do Refugiado, Brasil atualiza dados sobre população refugiada no país. Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/2022/06/21/no-dia-mundial-do-refugiado-brasil-atualiza-dados-sobre-populacao-refugiada-no-pais/.

CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, T.; SILVA, B. G. Dados Consolidados da Imigração no Brasil 2021. Série Migrações. Disponível em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/OBMigra_2022/DADOS_CONSOLIDADOS/Dados_Consolidados_2022.pdf.

CPDOC. Verbetes: imigração. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/IMIGRA%C3%87%C3%83O.pdf.

GRANGEIA, Mario Luis. Memórias e direitos na imigração Portuguesa no Brasil do Século XX. In: História (São Paulo), n. 36, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/his/a/wMS35KtkTj6YtxJwb7DP6fB/?lang=pt.

IBGE. Brasil 500 anos: Território brasileiro e povoamento. Disponível em: https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento.html.

LUCCI, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: ensino médio, 3. São Paulo: Saraiva, 2016.

MUSEU DA IMIGRAÇÃO. Brasileiros na Hospedaria: A Lei de Cotas e a Lei dos 2/3 - novo projeto de identidade nacional. Disponível em: https://museudaimigracao.org.br/blog/conhecendo-o-acervo/brasileiros-na-hospedaria-a-lei-de-cotas-e-a-lei-dos-23-novo-projeto-de-identidade-nacional.

SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, 7º ano: ensino fundamental, anos finais. São Paulo: Scipione, 2018, 300p.

Créditos da imagem

[1] Nelson Antoine / Shutterstock

 

Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia

Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUITARRARA, Paloma. "Imigração no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/imigracao-no-brasil.htm. Acesso em 19 de março de 2024.

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